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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Los más ricos de EE.UU. tienen su propio sistema fiscal que 'blinda' sus fortunas


pixabay.com

Los más ricos de Estados Unidos han gastado miles de millones de dólares en los últimos 20 años creando su propio sistema fiscal, conocido como "industria de defensa ingresos".

Las personas más ricas de Estados Unidos cuentan con su propio sistema fiscal que les ahorra miles de millones de dólares en impuestos, escribe 'The New York Times'. El sistema opera con cabilderos, abogados y mantiene cuentas en el extranjero con el objetivo de reducir las tasas de impuestos.

"Operando en gran parte fuera de la vista del público -tanto en el tribunal fiscal, como a través de disposiciones legislativas arcanas y en las negociaciones privadas con el Servicio de Impuestos Internos– los ricos han utilizado su influencia para reducir constantemente y poco a poco la capacidad del Gobierno de gravarlos", reza el artículo. Este sistema de impuestos privado atiende solo a varios miles de estadounidenses.

Hace veinte años los 400 contribuyentes más ricos en EE.UU. pagaban casi el 27% de sus ingresos. En 2012 esta cifra cayó por debajo del 17%, lo que casi se corresponde con lo que paga una familia típica que gana 100.000 dólares al año.

RT Actualidad

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Patetice na agressão a Chico

Patético! 

Me faltam palavras pra expressar o que estou  assistindo...o desrespeito para com Chico Buarque passou de todos os limites: a estupidez está solta, vociferam, vomitam todos os nojos existentes por conta de uma politicagem podre.

 Chico Buarque construiu uma obra prima que ficará para eternidade, acima de política, religião, crenças, credos, abram suas cabeças, aceitem e respeitem esse fato.

 O absurdo chegou a tal ponto que já não é permitido uma voz se levantar para apoiar ou defender esse governo...Oras!!!! 

E quem são esses ferozes juízes que emitem sentenças, inclusive de morte a quem ousar discordar de tal indignação política "seletiva"? 

Filhinhos de papais, que sempre usufruíram das benesses do governo, como no  recente episódio envolvendo Chico! 

Chico Buarque pode morar onde ele quiser, ele tem todo o direito aos incentivos disponibilizados para as artes, e cultura do país -  os cantores de funk, arrocha, sertanejo universitário,  os Villas Mixs,  M.Cs, estão com as burras cheias, mas liberar grana para a obra do Chico, não pode?!!!! 

Gente sem cultura, que elege o capital como o seu Deus, incorre sempre nessas barbáries, no caso (mico mesmo). 

Um espanto ver os reacinhas, indignados, chamando o Chico de "merdinha"...não dá nem pra pedir a Deus que perdoe esses imbecilizados, pois eles sabem muito bem o que estão fazendo.

 A mim essa turba ignorante e insana não intimida: estou com a democracia, estou com Dilma. 

#chicovcéomáximo.

* Ceres Bueno, em seu perfil no facebook

** título deste blogdoorro 

O Natal colonizado dos brasileiros

26/12/2015

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Parece incrível, mas a única coisa que tem de legitimamente brasileira no Natal é a farofa. As outras “tradições” natalinas foram todas importadas e reforçadas pelo comércio para ganhar dinheiro. Como seria um Natal brasileiro de verdade, se não fôssemos tão colonizados?

1. Papai Noel poderia até ser branquelo, afinal vivemos num país multirracial, mas nunca usaria roupas tão quentes em pleno verão! Só aceito Papai Noel se for de regatinha e bermuda. E o mais patético é que o coitado, além de vestido dos pés à cabeça, ainda entra pelas casas por uma… chaminé! No Brasil! Hahahaha. Pobres criancinhas, é um insulto à inteligência delas acreditar nisso.

2. Esqueça tudo envolvendo neve, trenó, cachecóis, gorros, luvas… Nem pensem em pinguins!!! A visão de Natal de muitas pessoas aqui parece ser a cópia exata de um filme de Hollywood, sendo que, nos Estados Unidos, isso se justifica porque é inverno. Num país tropical como o nosso, é simplesmente ridículo ficar macaqueando tradições de países onde, agora, é frio. Neve de pipoca e de algodão é o cúmulo da cafonice e do complexo de colonizado. Apenas parem.

3. Pra que pinheiros, gente, com tantas árvores muito mais lindas na flora brasileira para enfeitar o Natal? Por que não uma jabuticabeira, que já tem até as bolinhas? Jaqueiras, pitangueiras, amoreiras, cajueiros… Um coqueiro com seus cocos! Imaginem uma árvore de Natal dessas, que linda. Não precisaria nem ser de plástico, como 99% dos pinheiros são. Aliás, que festa mais artificial, hein? É tudo falso, até o amor de alguns pelo aniversariante do dia, Jesus…

4. Os frutos secos também não têm nada a ver. Acorda, deslumbrado! Você sabia que em muitos países da Europa tem frutas tropicais na ceia de Natal? Que mané nozes e avelãs! Dezembro é época de abacate, abacaxi, ameixa, manga, jabuticaba, umbu, cajá, siriguela, melancia… Lichia, que já virou brasileira e só dá nessa época do ano! A mesa ficaria muito mais linda e ainda daria para fazer umas caipiroscas. Nada contra champanhe, mas tem tudo a ver com o calor.

5. Em vez de peru ou chester, por que não um delicioso frango caipira? Além de mais suculento e apetitoso, ainda evita maltratar os animais. Vejam como os perus são criados neste frigorífico, um dos maiores do mundo, no Canadá [aqui]. Você acha que no Brasil é diferente?

6. No lugar do tender, carne de fumeiro da Bahia! Já provaram? É uma carne de porco defumada, muito mais deliciosa e macia do que o tender. Pode ser preparado da mesma maneira que o presunto, com abacaxi ou fios de ovos, mas fica bom mesmo é no escondidinho com mandioca…

7. E em vez de arroz com passas, por que não um goianíssimo arroz com pequi? Aromático, exótico, e amarelinho… Mais brasileiro impossível.

8. Confesso a vocês que a melhor parte do Natal para mim é o panetone. Além disso, a origem italiana do acepipe também é a mesma de muitos brasileiros. Portanto, ao invés de substituí-lo, nossa ceia brasileira seria apenas acrescentada de um magnífico bolo de fubá com goiabada. Feito em casa, o que já lhe dá uma vantagem diante do panetone.

9. Para terminar, podíamos substituir essas músicas gringas de Natal. Já deu de Noite Feliz e de Simone! As letras também poderiam ser mais honestas. Nada mais falso, por exemplo, do que “como é que papai Noel/ não se esquece de ninguém/ seja rico ou seja pobre/ o velhinho sempre tem”. Papo furado! Muito mais verdadeira é Boas Festas, de Assis Valente, a canção natalina que é a cara do Brasil e suas desigualdades. Aqui, na voz de Carlos Galhardo.

Confira a letra:

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem…

10. Ah, os presentes? Tudo bem, dar e receber presentes é sempre bacana, simpático, independente da época. Agora, não precisa pirar e entrar na onda consumista importada dos EUA. Dê presente para as crianças, para quem precisa, para quem você ama. E pronto.

domingo, 27 de dezembro de 2015

A receita dos EUA para o mundo eles não seguem em casa

TIJOLAÇO

protecionismo

Na véspera de Natal, o Ministério das Relações Exteriores recebeu um pedido da Associação dos Produtores de Soja para que apresentasse uma reclamação na Organização Mundial do Comércio contra os Estados Unidos. O motivo é A Farm Bill, uma lei aprovada ano passado que “completa” o preço da soja americana se ele baixar de um certo nível.

É apenas um dos subsídios e regulações que os americanos impõem. Muitos deles, há décadas, como a proibição de exportação de petróleo americano, em vigor de 1975 até há poucos dias atrás.

Dos outros – e dos da Europa também – fala Mauro Santayana em seu blog, ironizando a “tese” neoliberal de que, por lá, o Estado não interfere na economia e o “mercado” funciona sem qualquer amarra.

A receita que eles nos ditam, em suas próprias casas, leva o tempero da conveniência nacional.

O recado dos EUA e da  UE para seus capachos antinacionalistas
latinoamericanos: façam o que dissermos, não o que fazemos”

Mauro Santayana

Para os energúmenos que dizem que nos EUA o Estado não interfere na economia, uma notícia: só na semana passada foi aprovado pelo Congresso, em Washington, o fim da proibição da exportação de petróleo norte-americano, que perdurou por longos 40 anos.

Por lá, existe uma lei de conteúdo local, o Buy American Act – que, como ocorre no caso da Petrobras, aqui seria tachada de “comunista” e “atrasada” pelos entreguistas – que, desde 1933, exige que o governo dê preferência à compra de produtos norte-americanos, e que foi  complementada por outra, com o mesmo nome e objetivo, em 1983.

Na área de defesa, nem um parafuso pode ser comprado pelas forças armadas norte-americanas, se não for fabricado no país.

E se a tecnologia ou o desenho pertencer a uma empresa estrangeira, ela é obrigada a se associar, minoritariamente, a um “sócio” norte-americano, para produzir, in loco, o produto.

Quem estiver duvidando, que pergunte à EMBRAER, que, para fornecer caças leves Super Tucano à Força Aérea dos EUA, teve que se associar à companhia norte-americana Sierra Nevada Corporation e montar uma fábrica na Flórida.  

No Brasil, a nova direita antinacionalista, grita, nas redes sociais, o mantra da privatização de tudo a qualquer preço. Citando, automaticamente, fora de qualquer contexto, os Estados Unidos, oshitlernautas tupiniquins não admitem que estatais existam nem que dêem eventuais prejuízos, ignorando que nos EUA – a que eles se referem, abjeta apaixonadamente, como se não vivêssemos no mesmo continente, como America – a presença do estado vai muito além de setores estratégicos como a defesa.

No nosso vizinho do Norte o transporte ferroviário de passageiros, por exemplo, é majoritariamente atendido por uma empresa estatal, a AMTRAK, que – sem ser incomodada ou atacada por isso – dá um prejuízo de cerca de um bilhão de dólares por ano, porque, nesse caso, o primeiro objetivo não pode ser o lucro, e, sim, o atendimento às necessidades da população, incluídas as camadas menos favorecidas.

A União Européia, que posa de liberal no comércio internacional, e cujos jornais econômicos – assim como o Wall Street Journal, dos EUA – adoram ficar (a palavra que queríamos usar é outra) – ditando regras para o governo brasileiro, acaba de postergar, até segunda ordem, o acordo de livre comércio com o Mercosul, mesmo depois da eleição de  Fernando Macri, adversário de Cristina Kirchner, na Argentina.

Apesar da propaganda contrária por parte da imprensa brasileira, a culpa não foi do Brasil ou do Mercosul.

Como previmos no post “o porrete e o vira-lata” os europeus roeram a corda porque,  protecionistas como são, não querem eliminar seus subsídios ao campo nem  abrir o mercado do Velho Continente aos nossos produtos agrícolas, nem mesmo em troca da assinatura de um acordo que pretendem cada vez mais leonino – para eles  é claro – com a maioria dos países da América do Sul.  

Se no plano econômico é assim, no contexto político a estória também não é muito diferente.

Os bajuladores dos EUA entre nós acusam a Venezuela e a Argentina – onde a oposição venceu democraticamente as respectivas eleições há alguns dias – de ditaduras “bolivarianas”.

Mas não emitem um pio com relação a “democracias” apoiadas pelos EUA, como a Arábia Saudita – governada e controlada por uma família real com algumas centenas de membros.

Um reino que detêm um fundo, estatal e bilionário, que acaba de comprar 10% da terceira maior empresa de carnes brasileira, a Minerva Foods.

E uma monarquia fundamentalista na qual as mulheres votaram pela primeira vez, apenas na semana passada.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Como sempre, Chico nos deu uma boa lição

24/12/2015

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Entre humanos que relincham e outros capazes de zunir, num comportamento próprio de quadrúpedes morais, mais uma vez Chico Buarque de Holanda assegurou seu lugar na história do Brasil e dos brasileiros.

A cena vista e gravada num fim de noite no Rio de Janeiro é apenas a confirmação recente de que Chico é um artista que sabe qual é seu lugar em cada momento de nossa história.

Comporta-se dessa maneira há meio século, seja através da música, dos versos de gênio, de uma literatura cada vez mais apurada e espetacular. Age assim pela postura política de quem recusa o lugar de artista-mercadoria e sabe responder aos percalços e tragédias da conjuntura histórica com clareza, com valentia e uma auto ironia que o acompanha tanto nas horas agradáveis como nas mais difíceis, como se descobre pelo depoimento de um de seus amigos de “ Chico: um artista brasileiro”, documentário que é uma obra prima obrigatória para todo brasileiro preocupado em entender o seu país em 2015.

Mais do que um poeta, um grande escritor recém confirmado, Chico Buarque é uma das raras consciências da nação. Ajudou e ajuda os brasileiros a entender o país em que vivem. Por qualquer meio utilizado, seus enredos convergem para a defesa das grandes maiorias, a solidariedade diante dos explorados e excluídos.

Sempre denunciou o regime militar, combateu a censura, a brutalidade covarde da ditadura e o empobrecimento dos anos 1960 e 1970. Antes e depois da democratização, atuou para defender a primazia dos direitos e interesses dos que não tem direito à palavra, o que explica a importância do pobre, do negro, do explorado, em sua música, na literatura, no engajamento político direto, num tratamento frequentemente solidário e até carinhoso em alguns momentos. Entendeu o ponto de vista mulher, muito antes que se tornasse moda. Defendeu - como o filme mostra num depoimento surpreendente do início da carreira - os direitos de homossexuais quando palavras como veado e bicha eram parte do vocabulário familiar.  

Acima de tudo recusou as clássicas tentativas de acomodação com os interesses do alto, o que se reflete num comportamento que rejeita as vulgaridades típicas que a sociedade contemporânea reservas aos artistas de sucesso – a começar pelo inevitável beija-mão dos ricos e poderosos, entre eles a TV Globo.

Mostrando que aquilo que parece inevitável pode ser evitado, Chico mostrou uma força moral surpreendente no país da dialética da malandragem. Tem compromissos claros. Nunca deixou de ter um lado e sabemos muito bem que lado é este – e é isso, mais do que qualquer outro fator, que explica vários momentos de sua carreira, inclusive a agressão de anteontem.  

Atacado, cercado, naqueles movimentos tensos que podem descambar para uma situação fora de controle, Chico soube enfrentar com sorrisos e ironias uma provocação tipicamente fascista. Ouviu expressões inaceitáveis de ódio (“você é um merda, quem apoia o PT é um merda”) e ressentimento (“para quem mora em Paris é fácil”).

Manteve a postura adequada ao dizer que cada um tem direito a liberdade de sua opinião (“eu acho o PSDB bandido. E aí?”). No dia seguinte, ao postar a música " Vai trabalhar, vagabundo", lembrou a matriz moral de uma elite que jamais aceitou pegar no pesado. Três séculos e meio de escravidão nos contemplam. Seu nome é o desprezo pela democracia, a vontade indomável de recuperar privilégio, o desprezo pelos de baixo.

Meses depois da filósofa Marcia Tiburi escrever “Como conversar com um fascista”, Chico Buarque saiu da teoria para o terreno áspero da prática.

A experiência ensina que a bestialidade fascista costuma ser uma ação preparatória para atos de violência física, aberta e escancarada. É uma faísca a espera de uma chama capaz de produzir uma catarse.

Ao contrário de uma briga de rua, dos conflitos entre gangues adolescentes e mesmo guerras por ponto de tráfico, que se equivalem num mesmo universo entre interesses idênticos e apenas concorrentes, a violência fascista pretende assumir sempre um caráter político punitivo. É aí, pela pancadaria sem freios, até selvagem, que tenta produzir um espetáculo para sua ideia de superioridade com direito a prevalecer com base na força bruta.

Simula um discurso de redenção num universo que – de seu ponto de vista aloprado -- se tornou incapaz de aceitar indispensáveis remédios civilizatórios. Tenta acobertar a própria brutalidade, de caráter criminoso, a partir de um discurso que busca apontar supostas falhas morais, incorrigíveis, inaceitáveis e vergonhosas, no Outro. Seu discurso tem como destino a morte, numa agressão animalesca que quer fingir que não se trata de pura bestialidade doentia, tentando justificar-se pelas falhas e faltas do Outro. É pura barbárie mas pretende ser castigo. Quer dar uma lição.

Num flerte que nasceu pela ilusão suicida de que os movimentos fascistas podem ser úteis a um negócio que eu sempre imaginei que precisava da liberdade de expressão para sobreviver, nossos meios de comunicação fizeram um papel vergonhoso. Numa clássica banalização do mal, pois precisam das bestas-feras para alimentar um golpe de Estado disfarçado de impeachment, editaram um noticiário com verbos e palavras que invertem os papéis, transformando a vítima em agressor. É preocupante, quando se recorda a estatura cultural de Chico Buarque de Holanda. Nem ele precisa poupado, ensina-se. Vale-tudo -- essa foi a mensagem no dia seguinte.

Quem deu a boa lição foi Chico e isso não surpreende, para quem já assistiu “Chico: um artista brasileiro”. Não vou lembrar, aqui, as inúmeras passagens maravilhosas e diversas cenas pouco conhecidas da biografia de Chico Buarque. Só isso já vale o filme – mas o documentário tem mais. Tem ideias, reflexões.

Fico na principal, que tem a ver com o Brasil de hoje. Num depoimento sobre um país envolvido com um ambiente de desencanto e inconformismo com a economia, a política, a cultura, Chico Buarque formula uma visão indispensável.

Diz que a situação “piorou porque melhorou”.

Você entendeu: as mudanças e progressos ocorridos num período recente, quando as maiorias conquistaram direitos e garantias impensáveis em qualquer época, mudaram o país de alto abaixo. Mas essas mudanças trouxeram contrapartidas que, do ponto de vista de quem já se encontrava do outro lado da nossa imensa avenida social, nem sempre são confortáveis, muito menos bem vindas. Muitas podiam ser corretas, mas sequer ocorreram como se tinha imaginado. E agora? pergunta o filme.

Falando dos anos de sua juventude, em boas escolas, numa família com vida confortável, Chico responde. Lembra da bossa nova, dizendo que, para seu gosto pessoal, era uma música muito mais agradável do que a fase atual da música brasileira. Admite, contudo, que fala de um ponto de vista de uma determinada elite, com uma certa formação e hábitos próprios de quem habita determinados patamares da pirâmide social.

Deixa claro, com sinceridade, que prefere viver num país onde todos possam expressar a música a seu gosto e a seu estilo – mesmo que isso não seja o mais agradável a seus ouvidos. Essa é a opção.

Você sai do cinema convencido de que, como a maioria das pessoas, Chico tem muitas críticas ao que ocorre no país de hoje. Nem por isso, contudo, perdeu as referências de sua história nem os valores que nos ensinou a preservar – mesmo quando eram impronunciáveis e até malditos. Essa é sua força, seu lugar.

Recusa-se a negociar princípios democráticos em nome do gosto pessoal.  

Essa é a lição que se deve aprender.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O que aconteceria se não houvesse Lua?

El País 

23/12/2015

O que teria acontecido se nunca tivesse tido Lua é uma das principais buscas da web

Mas também nos perguntamos o que ocorreria se nosso satélite desaparecesse de repente

“Dividir para reinar”, dizia Júlio César. Portanto, antes de analisar o que aconteceria no caso de não existir a Lua(uma das pesquisas mais recorrentes do Google em 2015), vamos dividir a pergunta em duas: o que sucederia se, no momento atual, a Lua desaparecesse subitamente? E o que teria acontecido se a Terra nunca tivesse tido Lua?

La luna
Foto divulgada no fim de semana pela NASA mostra a Terra captada a partir da Lua pela sonda LRO (L unar Reconnaissance Orbiter).  EFE

O que aconteceria se a Lua desaparecesse de repente?

Imaginemos a Terra na atualidade: o que sucederia se fizéssemos a Lua desaparecer subitamente? Como a vida na Terra seria afetada? O efeito mais imediato que perceberíamos é que as noites seriam totalmente escuras, as fases lunares teriam desaparecido e todas as noites seriam noites de “lua nova”, noites sem lua. Seria o sonho de todo astrônomo, já que poderíamos desfrutar das estrelas, da Via Láctea e de outras maravilhas do cosmos sem ser ofuscados pela luz lunar. Deixariam de existir também os eclipses solares e os lunares. Além disso, desapareceria todo o romantismo e o mistério associado ao nosso satélite, que inspirou tantas canções, poemas, contos, romances, e tantos artistas, mas...aconteceria só isso se nosso satélite desaparecesse de repente? Claro que não!

1- Adeus às marés do modo como as conhecemos

Um efeito que sentiríamos no curto prazo seria o desaparecimento das marés decorrentes da gravidade da Lua. Nosso planeta tem 70% de sua superfície coberta de água líquida em forma de mares e oceanos. A Lua exerce uma força de atração gravitacional sobre tal crosta líquida, deformando-a e produzindo oscilações cíclicas ligadas à rotação da Terra com uma frequência aproximada de meio dia. É certo que o puxão gravitacional do Sol produz também uma deformação dos oceanos terrestres, mas seu efeito é aproximadamente a metade em força em relação ao lunar, de modo que, sem a presença da Lua, continuaria havendo marés na Terra, mas muito mais fracas. Seriam, basicamente, como um fluxo suave de ondas. Como consequência do desaparecimento das marés lunares, as correntes oceânicas se enfraqueceriam e as águas tenderiam a estancar-se. As margens dos mares perderiam seu sistema de drenagem e limpeza natural decorrente do avanço e recuo das águas. A água oceânica tenderia a redistribuir-se, tomando o rumo dos polos, e o nível do mar se elevaria nas costas. A consequência de tudo isso seria uma mudança drástica do clima da Terra.

2- Adeus a um eixo de rotação estável

O movimento da Lua ao redor da Terra está sincronizado, ou seja, o satélite leva o mesmo tempo para girar em si mesmo do que para girar ao redor da Terra. É por isso que sempre vemos a mesma imagem da Lua, e a outra permanece oculta para o nosso planeta. O movimento orbital da Lua ao redor da Terra estabiliza o eixo de rotação do planeta, mantendo sua inclinação fixa em cerca de 23 graus em relação ao plano de sua órbita (essa inclinação é a responsável pela existência das estações do modo como as conhecemos).

A Lua se formou uns 100 milhões de anos depois da Terra, após um violento impacto de um corpo do tamanho de Marte, denominado Theia

O eixo de rotação da Terra realiza um movimento circular estável chamado “precessão”, que é o que mantém tal inclinação fixa. O eixo terrestre demora cerca de 26.000 anos para completar esse movimento circular. Sem a Lua, a precessão terrestre se tornaria mais lenta, o que levaria o eixo de rotação terrestre a perder sua estabilidade, como quando um pião começa a balançar, prestes a cair, podendo variar seu eixo de forma caótica entre 0 e 90 graus. Isso resultaria novamente em uma mudança climática em escala global, que poderia produzir verões com temperaturas que superariam os 100 graus, e invernos com temperaturas abaixo de 80 graus negativos. No caso mais extremo, o eixo de rotação terrestre poderia alinhar-se diretamente na direção do sol, o que faria com que zonas do planeta ficassem sob uma permanente insolação e outras, em permanente obscuridade. As gigantescas diferenças térmicas entre uma metade e a outra da Terra provocariam ventos extremos, com velocidade de mais de 300 quilômetros por hora e outros fenômenos meteorológicos dramáticos.

3- Adeus a muitas das espécies e plantas terrestres

O desaparecimento da Lua afetaria também a vida na Terra. O efeito mais imediato seria o desaparecimento da própria luz solar refletida pela Lua, que alteraria os ritmos biológicos de muitas espécies animais e vegetais que se adaptaram e evoluíram sob a presença cíclica da luz lunar. Muitas espécies precisariam adaptar-se de repente à obscuridade total das noites sem lua.

O desaparecimento das marés lunares afetaria sobretudo as espécies adaptadas aos fluxos e correntes marinhos, como as que vivem nas costas às quais o fluxo das marés leva os nutrientes, ou as que habitam mares e oceanos, acostumadas aos atuais padrões das correntes marinhas.

Sem a presença da Lua continuaria havendo marés na Terra, mas muito mais fracas, seriam basicamente como um fluxo suave de ondas

As mudanças climáticas drásticas e globais, decorrentes do desaparecimento das marés e da desestabilização do eixo de rotação da Terra, seriam os fatores que produziriam as consequências mais terríveis sobre a vida terrestre. Os ritmos vitais de todas as espécies animais e vegetais seriam alterados por essas mudanças climáticas: as migrações, a época do cio, a hibernação etc. O crescimento das plantas também seria afetado pelas variações térmicas extremas. Muitas espécies seriam incapazes de se adaptar, haveria extinção maciça de plantas e animais. No caso muito extremo, que vimos antes, de que o eixo de rotação terrestre acabasse apontando para o Sol, a vida na Terra, tal como a conhecemos, seria impossível em qualquer dos dois hemisférios, e somente seria talvez viável no equador, entre os hemisférios ardente e gelado do planeta.

O que teria acontecido se a Terra nunca tivesse tido Lua?

Para poder analisar bem essa hipótese vejamos primeiro como acreditamos que a Lua se formou ao redor da Terra primitiva.

1- A formação da Lua

A Terra se formou há uns 4,6 bilhões de anos, a partir do disco de gás e pó que deu lugar ao Sol e aos demais corpos do Sistema Solar. Acreditamos que a Lua se formou uns 100 milhões de anos depois, após um violento impacto contra a Terra de um corpo do tamanho de Marte, chamado de Theia. O enorme impacto arrancou parte da Terra primigênia, que na época era uma esfera de magma, e a colocou em órbita terrestre.

O recém-criado sistema Terra-Lua começou a exercer uma atração gravitacional mútua. Tal atração produziu (e continua produzindo) a dissipação de uma enorme quantidade de energia decorrente da fricção dos oceanos com os fundos marinhos durante as idas e vindas das marés. Como consequência de tal dissipação, a velocidade de rotação da Terra se reduziu de cerca de 6 horas que durava o primitivo dia terrestre sem Lua até as 24 horas atuais (na atualidade a Lua continua freando a rotação da Terra a uma taxa de cerca de 1,5 milésimos de segundo a cada século). Para compensar essa diminuição na velocidade de rotação da Terra, a energia de rotação lunar precisa aumentar, o que produz um gradual afastamento da Lua da Terra, a uma velocidade de uns 3,82 centímetros a cada ano.

As condições dos fluxos e correntes necessárias para que a vida se desenvolvesse nos oceanos primitivos certamente não teriam existido

Não sabemos a distância exata entre a Lua e a Terra quando ela se formou, mas sabemos que estava a uma distância muito menor que a atual ((384.400 quilômetros), de modo que podia ser vista no céu com um tamanho de 10 a 20 vezes maior do que o da Lua atual. Essa proximidade produzia marés muito mais intensas que as atuais, que poderiam até mesmo afetar o magma terrestre e proporcionar uma energia extra para aquecer os elementos radioativos presentes na primitiva Terra. Essas marés intensas foram possivelmente muito importantes para mesclar e remover as águas de mares e oceanos, o que teria acelerado e possibilitado a origem e a evolução da vida há cerca de 3,8 bilhões de anos.

2- Uma Terra sem Lua

Agora que já sabemos como a Lua se formou e que efeitos teve sobre a Terra primitiva, podemos nos perguntar o que teria ocorrido se o corpo conhecido como Theia nunca tivesse se chocado contra a Terra em formação, rasgando um pedaço dela. O que seria então de uma Terra sem Lua? Já vimos que os efeitos da maré gravitacional entre a Lua e a Terra frearam a velocidade de rotação terrestre, das 6 horas originais até as 24 horas atuais. Se a Lua nunca tivesse sido formada, os únicos efeitos existentes da maré teriam sido os provocados pelo Sol, muito mais fracos do que os lunares. E a rotação da Terra seria atualmente de 8 horas.

Quanto maior é a velocidade de rotação de um planeta, maiores são os ventos produzidos nele. Assim, se o dia terrestre durasse somente 8 horas, os ventos típicos na Terra alcançariam 160-200 quilômetros por hora. Além disso, as marés, por serem ocasionadas somente pelo Sol, seriam muito mais suaves. Por isso, as condições de fluxos e correntes necessárias para que a vida se desenvolvesse nos oceanos primitivos certamente não teriam existido, ou teriam se formado centenas de milhões de anos mais tarde, retardando a origem e posterior evolução da vida terrestre. Já sabemos que, sem a Lua, a inclinação do eixo de rotação terrestre não seria estável, o que produziria variações extremas de temperatura e mudanças climáticas. Por tudo isso, em uma Terra sem Lua certamente na atualidade não existiriam formas de vida complexa e, quando finalmente surgissem, teriam com toda a probabilidade uma biologia muito diferente da que conhecemos.

Não sabemos a distância exata entre a Lua e a Terra quando ela se formou, mas sabemos que era muito menor que a atual

Se, apesar de tudo, vida complexa e inteligente chegasse a se desenvolver em uma hipotética Terra sem Lua, tudo seria muito diferente. Não existiriam, por exemplo, os calendários baseados nas fases lunares, que ajudaram nossa espécie a entender e dominar a agricultura, a caça, e os ciclos biológicos, e a construir, em suma, nossa civilização. A tecnologia e a ciência nesta Terra sem satélite seriam também muito diferentes. Mediante o estudo das fases lunares foi possível determinar a distância Terra-Lua, seus tamanhos, a distância entre a Terra e o Sol, os tamanhos e distâncias de outros corpos do Sistema Solar, e outras distâncias do universo que nos colocaram em nosso verdadeiro lugar no cosmos: um grão de poeira ao redor de uma estrela de um amontoado nos subúrbios de uma entre bilhões de galáxias do universo. Esse conhecimento não teria sido possível em uma Terra sem Lua.

Poderia haver verões com temperaturas que superariam 100 graus, e invernos com temperaturas abaixo de 80 graus negativos

Felizmente, para nós, Theia se chocou contra a Terra e formou nosso satélite, e é muito pouco provável que ele desapareça de repente. Sabemos, contudo, que existem muitos planetas girando ao redor de outras estrelas, desprovidos de lua, com condições, e talvez vida, que nos parecerão estranhas e exóticas. Nós, terrestres, podemos respirar tranquilos. Temos Lua para muito tempo, pois ela não conseguirá jamais escapar da atração gravitacional da Terra, apesar de estar se afastando pouco a pouco de nós. Além do mais, acreditamos que dentro de uns 5 bilhões de anos, quando o Sol estiver em sua fase final de vida e se transformar em uma estrela gigante vermelha, a Lua se deterá e voltará a se aproximar da Terra. Será a fricção de nosso satélite com a atmosfera mais externa do gigantesco Sol vermelho, dentro da qual a imensa Lua ficará imersa, o que a freará. O tamanho da Lua crescerá de novo nos céus da Terra até que a força gravitacional terrestre a fragmente em um último e letal abraço. Deixaremos então de desfrutar para sempre das lindas fases lunares, mas um anel composto por milhões de fragmentos do que foi nosso satélite poderá ser visto brilhando nas noites e dias terrestres...se houver então restado algum ser vivo para contemplá-lo.

Pablo Santos Sanz é pesquisador do Departamento do Sistema Solar no Instituto de Astrofísica da Andaluzia-CSIC.

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