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terça-feira, 23 de maio de 2017
A burguesia nacional está indecisa*
Sem recorrer a história da humanidade, com raras exceções, as ditas revoluções, ou melhor, a maioria dos golpes de estado, sempre foram liderados pela burguesia. Assim foi na Europa, nos EUA, nos países latino-americanos, e, para não fugir à regra, no Brasil.
Em todas as circunstâncias, os golpes brasileiros sempre foram comandados pelos liberais, sobretudo em defesa da propriedade da terra ou dos meios de produção. Já dizia Cecília Meirelles no poema dos Inconfidentes, que “toda vez que um justo grita, um carrasco vem calar, quem não presta fica vivo, quem é bom mandam matar”.
Em 1964, o golpe executado pelos militares, foi articulado pelos civis, ou melhor, pela burguesia nacional, que não queria perder parte do latifúndio com as reformas tendenciosas de Jango. Com o golpe, a burguesia foi agraciadas com mais terras, consideradas devolutas, sob o manto da “necessária” expansão da fronteira agrícola em direção à Amazônia. Os sem-terra continuaram sem-terra enquanto a burguesia concentrou mais terra ainda, à custa da expulsão de posseiros e comunidades indígenas.
O golpe de 2016 se assemelha na essência, tendo a necessidade de estancar os avanços da esquerda que prometia ampliar a participação da ralé nos bens de consumo, ameaçando mais uma vez a “legitimidade” dos proprietários dos meios de produção.
Como diz Jessé de Souza em "A tolice da inteligência brasileira": “Mudam-se as vestes e as fantasias, ‘moderniza-se’ o golpe, substitui-se o argumento das armas pelo argumento ‘pseudo-jurídico’, amplia-se a aparência de ‘neutralidade’, sai de cena a baioneta e entra no palco da ópera bufa a toga arrogante e arcaica do operador jurídico, mas preserva-se o principal: quem continua mandando de verdade em toda a encenação do teatro de marionetes são os mesmos 1% que controlam a riqueza, o poder e instrumentalizam a informação a seu bel-prazer.
Os outros 99% ou são manipulados diretamente, como a classe média ‘coxinha’, ou assistem de longe, bestializados, a um espetáculo o qual, como sempre, vão ter que pagar sem participar do banquete” (p.261).
Com toda a gravidade das denúncias contra o golpista de plantão, a burguesia nacional parece indecisa. Em princípio tendia à saída de Temer, onde a mídia exercia um papel de "liderança". Quase uma semana depois da denúncia pública dos sócios da JBS, percebe-se uma tendência de amainar os ânimos.
Basta ver as notícias: “as denúncias não afetaram a entrada de moedas estrangeiras no país”; “jantar com líderes da base aliada na casa do presidente da Câmara”; OAB, que até ontem entraria com o pedido de “impeachment”, hoje parece estar "repensando"; “a câmara pretende reiniciar os trabalhos da reforma da previdência nesta semana”.
Os índices pífios de parâmetros econômicos estão cada vez mais ganhando força em relação à crise política. Para que essa mudança de comportamento ocorresse, tanto de instituições como da mídia nacional, tudo indica que foram contemplados com algumas benesses, já que o histórico patrimonialismo se constitui na forma mais “legítima” para conter os “rebeldes”.
Concluindo: a burguesia nacional parece não estar disposta a alterar os rumos da nação, uma vez que o “estadista” de plantão atende suas necessidades e legisla para uma maior subordinação da força de trabalho aos interesses da mais-valia.
Sabendo da ineficiência e desânimo da esquerda brasileira em manter pressão suficiente para a queda de Temer, a burguesia brasileira, que parece satisfeita com os resultados, não atiça seus subordinados, que sempre estarão de prontidão para atender a ordem de comando.
* Do face de Walter Casseti, prof. aposentado da UFG
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