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terça-feira, 4 de junho de 2013

Caravana [ da Comissão Nacional de Anistia ] aprova anistia a três goianos

31/05/2013 às 22h08

Caravana anistia três goianos

Com a participação de Paulo Abrão, Fábio Tokarski, Luiz Carlos Orro e Carol Stálin Pires Leal são anistiados

DIÁRIO DA MANHÃ
RENATO DIAS

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em sua 70ª Caravana Nacional, com a participação do seu presidente, advogado Paulo Abrão, aprovou, ontem, em Goiânia, durante a realização do 53º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), a concessão de anistia ao presidente do PCdoB em Goiás, Fábio Tokarski, ao ex-secretário municipal de Esportes e Lazer da Prefeitura de Goiânia, Luiz Carlos Orro, e ao ex-militante do Partidão (PCB), Carol Stálin Pires Leal. Os três foram perseguidos durante a ditadura civil e militar no Brasil (1964-1985).

Documentos hoje sob a guarda do Arquivo Nacional, em Brasília (DF), mostram que o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI),  Polícia Federal (PF),  Centro de Informações do Exército (Ciex)  e Departamento de Ordem Política e Social (Dops-Goiás) monitoraram Tokarski de 1979 a 1989. Dez anos vigiado, preso e ameaçado pelos órgãos de repressão, vi-gilância e informação do regime civil e militar, denuncia o militante comunista. O prontuário, até então confidencial, reuniria 180 relatórios sobre a sua atuação política, sindical e popular.

Ele conta que os seus passos eram acompanhados na campanha em Goiás por Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. A Lei 6.673 foi aprovada pelo Congresso Nacional em agosto de 1979. Mais: os arapongas registraram a sua presença no Congresso Nacional de Reconstrução da UNE, em Salvador (BA), no mesmo ano.  O líder socialista relata que os agentes públicos anotaram a sua ida ao Encontro Nacional, em São Paulo, no Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980, que fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), ao lado do líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

Os relatórios reservados apontam que Tokarski  teria sido um ativo militante do Movimento Goiano Contra a Carestia, nos anos de 1980, 1981 e 1982, que organizava manifestações contra os governos esta-dual e federal. Preto no branco: ele esteve também na criação da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), em Campinas (SP), no ano de 1981, e no Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), no Estado de São Paulo. No mesmo ano teria sido preso em pichação de muro contra os militares e por liberdades democráticas no País. 

Em 1984, ele foi preso, pela Polícia Federal (PF), em São Paulo, ao lado de Eliomar Pires Martins, Odeth  Ghannam, Adalberto Monteiro e Antônio José Porto Bandeira. Os dossiês contam intervenções suas na campanha por eleições diretas para a Presidência da República, em 1983 e 1984. A última eleição direta ao Palácio do Planalto ocorrera  em 1960, lembra. Mas a emenda Dante de Oliveira, que propôs a volta das diretas, não obteve o número de votos suficientes no Congresso Nacional, informa. Eleição direta apenas no ano de 1989, recorda-se.

Em Minaçu, no ano de 1985, após o fim da ditadura civil e militar, o delegado Hilo Marques, teria colocado um revólver na cabeça do advogado Egmar Oliveira, que viria a ser depois vereador em Anápolis e vice-presidente da Comissão Nacional de Anistia. Egmar Oliveira estava dirigindo um carro de som em uma manifestação de trabalhadores rurais e acompanhado por Tokarski e pelo então deputado federal Aldo Arantes, que havia sido presidente da UNE no turbulento ano de 1961, à época da renúncia da  “etílica vassoura” Jânio Quadros à Presidência da República.

Os registros dos órgãos de segurança informam nova prisão do dirigente comunista, já em plena legalidade (O PCdoB se tornou um partido legal no ano de 1985, sob o governo do presidente José Sarney), em 1987. Ao lado do militante socialista Wellington Fernandes, Tokarski foi parar atrás das grades durante uma manifestação de trabalhadores rurais, cercada na Avenida Anhanguera em Goiânia. Segundo ele, o advogado que lhe tirou da prisão era Jaime Máximo, já morto, que exerceu tempos depois o cargo de procurador-geral de Goiânia.

Militância 

comunista

O advogado Luiz Carlos Orro era estudante de Jornalismo, na Universidade Federal de Goiás (UFG),  quando foi flagrado, em 29 de maio de 1979, em Salvador (BA),  no Congresso de Reconstrução da UNE.  No mesmo ano ele havia ingressado no PCdoB, o partido que deflagrou a guerrilha do Araguaia (1972-1975), ocorrida no Norte de Goiás (atual Tocantins) e Sul do Pará e que deixara um saldo trágico de mais de 60 guerrilheiros comunistas mortos e desaparecidos.  Ele presidiu à época do Diretório Acadêmico de Ciências Humanas, que incluía 11 cursos de Humanas.

Apesar de a sua primeira prisão ter ocorrido em 1974, aos 16 anos de idade, os agentes de informação o prenderam em 1979, durante uma greve de operários da construção civil, em Goiânia. Já em 1980, os prontuários registram que ele assumira, em 1980, a vice-presidência para a Região Centro-Oeste da entidade nacional dos estudantes. Não custa lembrar: o presidente da UNE era Aldo Rebelo (AL), atual ministro dos esportes do governo da presidenta Dilma Rousseff, frisa. A sua terceira prisão ocorreu em 1982, na invasão da Vila João Vaz, na Capital do Estado, diz.

"Em 1984, invadiram minha casa, mas fui preso em um local do PCdoB, algemado, espancado e enquadrado na Lei de Segurança Nacional (LSN) por tentar reorganizar um partido clandestino. O último suspiro da ditadura", desabafa. O acervo do Arquivo Nacional guardaria re-gistros de sua atuação política e socialista até o ano de 1989. "Nada mais, nada menos do que 101 dossiês", revela ao Diário da Manhã. Carol Stálin Pires Leal, também anistiado na sessão especial, de ontem, da Caravana da Anistia, foi militante do Partido Comunista Brasileiro, o PCB. 

Sexto filho de Basileu Pires Leal, ele era estudante de Arquitetura da Universidade de Brasília (UNB), onde dirigia o Centro Acadêmico dos estudantes do curso. Preso em 1970, sofreu torturas. Ameaçado em 1973, fugiu para o exílio, ao Chile, de Salvador Allende. Com o golpe de 11 de setembro, deflagrado pelo general Augusto Pinochet, acabou preso e torturado no Estádio Nacional, em Santiago. Depois, obteve asilo na Suécia, onde concluiu o curso de Urbanismo, em Uppsälla. Com a anistia, voltou ao Brasil. Ele morreu, em 1989, em um acidente automobilístico: o seu último re-gistro nos órgãos de segurança e informação, relata, emocionada, a sua filha, Tatiana Leal.

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