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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Homenagem ao engenheiro Bigu no DNIT

Em solenidade na sede do DNIT - Unidade de Anápolis, GO - na manhã de 10 de setembro, dirigentes e servidores do órgão despediram-se do Engenheiro Supervisor da Unidade, José Olímpio Maia, que se aposentou.

Uma comovente homenagem foi prestada a vários engenheiros civis que dedicaram suas vidas e carreiras profissionais ao rodoviarismo e à integração do país.

Na sala da Chefia foi inaugurada a Galeria de Fotos dos Engenheiros-Chefes e entre os homenageados estava o engenheiro civil Benedito Ribeiro de Freitas (Bigu), que chefiou a unidade de Anápolis de 1962 a 1963 ( na época era DNER, atual DNIT).



O "doutor Bigu", como era popularmente chamado, nasceu em Uruaçu, no antigo meio-norte de Goiás, em 1929. Ficou órfão do pai aos quatro ou cinco anos. Sua mãe, a vovó Joaninha (Joana Rodrigues de Freitas), foi uma das primeiras professoras primárias de Uruaçu.

O jovem Benedito cursou a Escola Técnica em Goiânia e formou-se engenheiro civil em Belo Horizonte pela UFMG, em 1958, iniciando sua atuação como construtor de estradas.

Foi um autêntico "engenheiro do trecho", no final da era JK. Viveu a época da construção de Brasília e das rodovias que ligaram a nova Capital às várias regiões do país. 

O trabalho para o qual era designado  é que definia os locais onde moraria com a família: Paracatu (MG) em 1959; Rio Verde (GO) de 1960 a 62; depois Anápolis; Uruaçu  e Brasília, de 63 a 71, nos tempos da RODOBRAS; em meio ao surgimento das rodovias que ligariam a Capital Federal  a Belo Horizonte, Cuiabá, Goiânia, Belém.

O engenheiro uruaçuense atuou ainda na fase inicial da construção da Usina de Itaipu em Foz do Iguaçu (PR). De 1971 a 1972 trabalhou no DERGO, na construção da ponte sobre o Rio Araguaia, ligando Couto Magalhães (GO, agora TO) a Conceição do Araguaia (PA). 

Em 1974/75, foi Diretor Técnico da PAVICAP (depois DERMU/COMPAV e atual SEMOB), na Prefeitura de Goiânia. Me lembro do asfaltamento do prolongamento da Rua 83, para a inauguração do Estádio Serra Dourada, em 1975, ele num sufoco danado, virando noite e fins de semana, sempre falando num rádio com o encarregado da usina de massa asfáltica da Prefeitura, pedindo mais produção.

O carro de serviço que ele usava era um fusca azul, o motorista era o "seu Genaro". No porta luva meu pai sempre tinha uma caderneta, onde ia anotando os endereços de buracos nas ruas, bocas-de-lobo e meio-fios quebrados, etc, para mandar as equipes de manutenção. Quando ele dirigia o carro, muitas vezes eu mesmo anotei na tal caderneta o que ele ditava. Parecia que não se cansava nunca. 

Na iniciativa privada, foi sócio-fundador, e depois proprietário, da SERVITEC, sempre atuando no ramo de obras rodoviárias.


                                        Eu e Custódio com colegas de papai do DNIT/Anápolis


Assim era o nosso pai, pai de doze filhos, três casamentos, que faleceu em 2002, aos 73 anos. 

Na homenagem em Anápolis, revivi com muita saudade e orgulho as lembranças do velho, que nos ensinou e incentivou a estudar, a trabalhar e acreditar no Brasil, a gostar de boa música. 

Olga, Custódio, Regina e eu estivemos na solenidade em Anápolis, representando a família. Ali ouvimos vários relatos daqueles que foram colegas de trabalho de papai, que falaram de sua dedicação ao serviço, da sua determinação de executar e concluir a obra sob sua responsabilidade. Era muito trabalhador, simples e amigo de todos, testemunharam. 

                                                      CAUSOS DA VIDA 

Eu e Custódio lembramos de quando éramos crianças em Anápolis e num domingo fomos com papai na sede do DNER. Enquanto ele trabalhava no escritório a gente se esbaldava, brincando de dirigir tratores D-8, caminhões, caminhonetes.

Só que na segunda cedo nenhum veículo podia ser ligado: as chaves tinham sumido! 

Diz a lenda que o Dim, nosso saudoso irmão Luiz Cláudio, levou as chaves no bolso...kkkkkk (acho que não foi só ele não),  elas estavam dentro dos caminhões de brinquedo que tínhamos em casa, debaixo da cama. Éramos um trio prá muita confusão! Pensa no tamanho da bronca que a gente deve ter ganhado, isso tem cinqüenta anos, nem lembro direito. 

Outra de que me lembro é que sempre íamos com o velho para o trecho, na obra da estrada, nos fins de semana e férias, na época do asfaltamento da Belém-Brasília (antiga BR 14, atual BR 153). 

Num dia desses, em algum córrego entre Uruaçu e Porangatu, estavam construindo um bueiro ARMCO, daqueles de chapas metálicas parafusadas.

 E as chapas não se ajustavam, o trabalho tava meio empacado...Quando é fé, olha o doutor Bigu lá em cima do bueiro, alavanca na mão, orientando os operários: 
- No três, todo mundo faz força para esse lado!

E no três, a alavanca escapuliu, e papai caiu dentro do córrego, de  costas. 
Pensa num homem bravo, meio caído, meio levantando, gritando, o dedo em riste:
- Ninguém ri, ninguém ri!

Diz o Custódio que desse episódio resultou uma fratura da bacia. Mas o tal bueiro da rodovia foi concluído no prazo. 

Hoje o que falta é duplicar a Belém-Brasília, uma das rodovias mais importantes do Brasil, e concluir de vez a  Ferrovia Norte-Sul, vital para escoamento da produção da nossa região, na certa diria papai. 

Além do trabalho, gostava muito de música (ele e a irmã, a querida tia Zizi). Na casa dele tinha de tudo: violão, cavaquinho (ele arranhava bem), piano, guitarra, pandeiro; e muita festa, mil serestas e memoráveis comemorações com a família e amigos, o tradicional carneiro de 6 de janeiro, na Festa de Reis.

O blog está aberto para a publicação de mais e mais estórias que cada um/a for lembrando. Mandem fotos também. 

Posto aqui fotos de um computador Olivetti que ele usava em 1972/73, para fazer cálculo estrutural: o monstro pesa quase 50 kg. 





E olha só outras coisas do século passado que ele usava: tá tudo funcionando, mandei reformar!






Em memória do saudoso pai, vai aqui uma moda boa, com um abraço apertado. Eu e o maestro Nildo 7 cordas... 



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GALERIA DE FOTOS




          Porangatu, 1975, casa dos tios-avós Moacir/Edite. Papai encostado na pilastra,       
                             Custódio no violão, eu era o retratista, tanta gente ....






                                         
                                Casamento com minha mãe, Angelina, BH, 1957.




                             Eita família grande - Goiânia, 2003



            Com Wildeã e pais da Regina (Crudwald e Leda), 1978, no nosso casamento


 

                            Seresta das boas em Uruaçu: tia Zizi, Odeni, seu Plínio.




                          E na casa de papai também, com Da. Edmee na sanfona, talvez 1999.



                                                    Papai e Olga -2001





                           Com o prefeito Pedro Wilson, 2002, na inauguração do 
                                 Coreto da Praça Joaquim Lúcio. Campinas.



                                                          Aniversário de alguém, 2004.



                     Tio-avô Moacir, papai, Luis Filipe, eu e Custódio, lá pelo ano de 1999

sábado, 14 de setembro de 2013

Putin: “É perigoso encorajar as pessoas a se verem como excepcionais”

Artigo de Putin ao povo e líderes dos EUA sobre a crise na Síria entra para a História. 

Publicado no New York Times em 12/09/2013, prega o consenso a partir das decisões da ONU, condena ação militar à revelia da lei internacional e diz que é preocupante que Obama encoraje os estadunidenses a se verem como excepcionais. 

Ataque direto dos EUA à Síria levará a nova onda de terrorismo, adverte. 

Para ser lido, refletido, estudado. 

Confira. 

LCO

*Republicado do blog VIOMUNDO. 

por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo

O artigo que tomou quase uma página inteira do New York Times deu o que falar.

Foi assunto na blogosfera norte-americana o dia inteiro e provocou até mesmo uma explicação do jornal.

Margaret Sullivan, ombudsman, publicou um post no site doTimes para explicar como e porque a publicação decidiu postar, ontem à noite — e publicar hoje no jornal impresso — o artigo assinado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Ela conta que na última quarta-feira o editor da página de opiniões e editoriais, Andrew Rosenthal, recebeu um telefonema da empresa de relações públicas americana que representa Vladimir Putin oferecendo o artigo.

Ele estava tão bem escrito e a argumentação era tão forte que Rosenthal decidiu publicar.

A repercussão foi enorme. Segundo o Times, nos últimos tempos foram poucos os artigos que receberam tanta atenção imediatamente.

Só se compara aos que foram escritos por Mona Simpson, irmã de Steve Jobs; Angelina Jolie sobre a mastectomia dupla à qual se submeteu e ao artigo de Greg Smith contando porque pediu demissão do banco Goldman Sachs.

Segue a tradução:

Um pedido de cautela, da Rússia

Por Vladimir Putin, presidente da Rússia, no New York Times

Eventos recentes envolvendo a Síria me impeliram a falar diretamente com o povo norte-americano e com seus líderes políticos. É importante fazê-lo num tempo no qual a comunicação entre as sociedades é insuficiente.

As nossas relações passaram por estágios distintos. Estivemos uns contra os outros durante a Guerra Fria. Mas também já fomos aliados, e derrotamos os nazistas juntos.

A organização universal internacional – as Nações Unidas – foi estabelecida para evitar que devastações como esta acontecessem novamente.

Os fundadores das Nações Unidos entenderam que as decisões que afetam a guerra e a paz devem ser tomadas apenas por consenso, e com o consentimento norte-americano o veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança foi preservado no Estatuto das Nações Unidas.

A sabedoria profunda dessa decisão sustentou a estabilidade das relações internacionais por décadas.

Ninguém quer que as Nações Unidas sofram a mesma sorte da Liga das Nações, que desmoronou por não ter alavancagem real. Isso é possível se países influentes ignorarem as Nações Unidas e agirem militarmente sem a autorização do Conselho de Segurança.

O ataque potencial dos Estados Unidos contra a Síria, apesar da forte oposição de vários países e grandes líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, resultará em um aumento do número de vítimas inocentes e pode, potencialmente, espalhar o conflito para além das fronteiras da Síria.

Um ataque aumentaria a violência e deflagraria uma nova onda de terrorismo.

Ele poderia minar esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito Israel-Palestina além de desestabilizar o Oriente Médio e o Norte da África.

Ele poderia desequilibrar todo o sistema internacional de lei e de ordem.

A Síria não está assistindo a uma batalha pela democracia, mas a um conflito armado entre o governo e a oposição em um país multirreligioso.

Existem alguns defensores da democracia na Síria. Mas há um número mais do que suficiente de rebeldes e extremistas da Al Qaeda de todos os tipos lutando contra o governo.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos designou a Frente Al Nusra, o Estado Islâmico do Iraque e o Levante, que lutam do lado da oposição, como organizações terroristas.

Esse conflito interno, alimentado por armas estrangeiras fornecidas à oposição, é um dos mais sangrentos do mundo.

Mercenários de países árabes que estão lutando lá, e centenas de militantes de países ocidentais e até mesmo da Rússia, são assuntos que nos preocupam profundamente.

Será que eles retornarão a seus países com experiência adquirida na Síria?

Afinal, depois de lutar na Líbia, extremistas se deslocaram para o Mali.

Isso nos ameaça a todos.

De fora, a Rússia defendeu o diálogo pacífico permitindo aos sírios desenvolver um plano de compromisso para seu próprio futuro. Nós não estamos protegendo o governo da Síria, mas a lei internacional.

Nós precisamos usar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e acreditamos que preservar a lei e a ordem no complexo e turbulento mundo de hoje é uma das poucas formas de evitar que as relações internacionais deslizem para o caos.

A lei ainda é a lei, e nós devemos seguí-la gostemos dela ou não.

De acordo com a atual lei internacional, o uso da força só é permitido em defesa própria ou por decisão do Conselho de Segurança.

Qualquer outro motivo é inaceitável, de acordo com o estatuto das Nações Unidas, e se constituiria em um ato de agressão.

Ninguém duvida que gás venenoso foi usado na Síria. Mas existe muita razão para se acreditar que ele foi usado não pelo Exército Sírio, mas pelas forças de oposição, para provocar uma intervenção de patronos estrangeiros poderosos, que tomariam o partido dos fundamentalistas.

Informes de que militantes estão preparando outro ataque – desta vez contra Israel – não podem ser ignorados.

É alarmante que a intervenção militar em conflitos internos de países estrangeiros tenha se tornado comum para os Estados Unidos.

É de interesse dos Estados Unidos no longo prazo? Eu duvido.

Milhões, no mundo, cada vez mais veem os Estados Unidos não como modelo de democracia, mas se apoiando somente na força bruta, formando coalizões sob o slogan “ou você está conosco ou contra nós”.

Mas a força tem se mostrado ineficiente e sem sentido. O Afeganistão está cambaleando e ninguém sabe dizer o que vai acontecer quando as forças internacionais forem embora.

A Líbia está dividida em tribos e clãs.

No Iraque, a guerra civil continua, com dúzias de mortes todos os dias.

Nos Estados Unidos, muitos fazem uma analogia entre o Iraque e a Síria, e perguntam por que seu governo gostaria de repetir um erro recente.

Não importa quanto precisos os ataques ou quão sofisticadas as armas, as mortes de civis são inevitáveis, incluindo idosos e crianças que o ataque tem como objetivo proteger.

O mundo reage perguntando: se você não pode contar com a lei internacional, então deve encontrar outras formas de garantir a sua segurança.

Daí o crescimento do número de países que estão tentando adquirir armas de destruição em massa. Existe uma lógica: se você tem a bomba, ninguém vai tocar em você.

Resta-nos a conversa sobre a necessidade de fortalecer a não-proliferação, quando na realidade ela está sendo erodida.

Nós temos de parar de usar a linguagem da força e voltar ao caminho da diplomacia civilizada e dos acordos políticos.

Uma nova oportunidade para evitar a ação militar surgiu nos últimos dias.

Os Estados Unidos, a Rússia e todos os membros da comunidade internacional devem abraçar a oportunidade da intenção do governo sírio de colocar seu arsenal químico sob o controle internacional para subsequente destruição.

A julgar pelas declarações do presidente Obama, os Estados Unidos veem esta como uma alternativa à ação militar.

Eu dou as boas vindas ao interesse do presidente em continuar o diálogo com Rússia e Síria.

Nós devemos trabalhar juntos para manter viva essa esperança, como concordamos no encontro do G8 em Lough Erne na Irlanda do Norte em junho, e levar a discussão de volta para as negociações.

Se pudermos evitar o uso da força contra a Síria, isso vai melhorar a atmosfera das relações internacionais e fortalecer a confiança mútua.

Será nosso sucesso coletivo e abrirá  as portas para a cooperação em outros assuntos críticos.

Meu trabalho e minha relação pessoal com o presidente Obama são marcados por uma confiança crescente. Eu sou grato por isso.

Eu estudei cuidadosamente seu discurso à nação na terça-feira. E discordaria de um argumento que ele apresentou sobre o excepcionalismo americano, afirmando que a política dos Estados Unidos é “o que torna os Estados Unidos diferentes, é o que nos torna excepcionais”.

É muito perigoso encorajar as pessoas a se verem como excepcionais, seja qual for a motivação.

Existem países grandes e pequenos, ricos e pobres, aqueles que têm uma longa tradição democrática e os que estão ainda encontrando o caminho da democracia.

Suas políticas também são diferentes. Nós somos todos diferentes, mas quando pedimos ao Senhor suas bênçãos, não devemos nos esquecer de que Deus nos criou todos iguais.



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Renato Rabelo: O desafio da construção do pensamento revolucionário

O Partido Comunista tem como sua causa o grande ideal da superação revolucionária do capitalismo e da construção da nova sociedade socialista. 


Este objetivo maior somente será alcançado com o desenvolvimento da teoria revolucionária, que plasme um pensamento avançado engajado no seu tempo histórico.

Por Renato Rabelo*
A luta pelo desenvolvimento e aplicação de um pensamento de esquerda revolucionário, marxista, em nosso tempo no Brasil, que se concretize na existência de um partido comunista de feição e prática revolucionárias – condutor da maioria dos trabalhadores e das camadas populares – tem sido o centro de um embate histórico incessante do Partido Comunista do Brasil.

Esse grande embate transcorre desde a fundação do Partido em 1922, passando pela reorganização de sentido revolucionário em 1962, seguindo no 8º Congresso, em 1992, quando enfrentou e venceu a avalanche da derrota estratégica do socialismo. 
Segue, hoje, na tarefa primordial de reavivar a perspectiva comunista, na luta do PCdoB que compreende a acumulação estratégica de sentido revolucionário nas novas condições políticas inauguradas pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, num mundo em que o movimento revolucionário está sujeito ainda a uma correlação de forças que favorece o imperialismo-capitalismo.
O PCdoB analisa que esse hodierno período histórico coloca os comunistas diante da disjuntiva – de colocar em marcha uma nova luta pelo socialismo, retirando as lições da construção do socialismo do século passado, atualizando o caminho e reavivando seu rumo – ou prevalecerão o sistema e a ordem capitalistas por longo período histórico, num retrocesso civilizacional. 

Na avaliação histórica feita pelo Partido, ressaltando ensinamentos capitais, depreendemos que o socialismo inicia seus passos na história. 
O seu propósito primordial é resolver a contradição essencial do capitalismo: produção cada vez mais social em antagonismo crescente com a forma de apropriação privada da renda e da riqueza. 
Somente será possível essa realização com o estabelecimento do poder de Estado dos trabalhadores e seus aliados. Mas o aprendizado da construção do socialismo ressalta que não há modelo único nem de socialismo, nem de revolução.
 Sua edificação passa por um período objetivo de transição, com etapas conforme as peculiaridades de cada país.

O PCdoB – nesta fase de sua direção na quarta geração – conseguiu situar e determinar, num esforço baseado na teoria marxista-leninista, compreendendo a realidade do atual período histórico, uma visão que embasa nosso pensamento tático e estratégico, definida no conceito: a acumulação estratégica de forças, cujo objetivo é a conquista da hegemonia dos trabalhadores e das camadas populares, configurado no poder estatal de caráter democrático-popular, visando à transição ao socialismo. 
A acumulação para alcance da hegemonia dá-se pela via das reformas estruturais e de rupturas com a ordem vigente. Esta tarefa estratégica do PCdoB é delineada no seu Programa – o caminho de fortalecer a nação, no rumo da luta pelo socialismo.
 Portanto, o caminho não deve se perder nos desvãos da caminhada, não se esgota, até que seja atingido o destino socialista.

Na linha programática atual, a realização plena de Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento se constitui no caminho brasileiro para o socialismo. Portanto, esse não é um fim em si mesmo. 
Este novo Projeto é compreendido essencialmente no entrelaçamento entre as tarefas fundamentais da luta pela soberania nacional, a democratização da sociedade, o progresso social, a defesa do meio ambiente, a integração solidária da América Latina.
 A concretização dessas tarefas se realizará por meio das reformas democráticas na superestrutura político-institucional (reforma política, reforma do Poder Judiciário, democratização dos meios de comunicação), e nas reformas econômicas e estruturais da sociedade (reforma financeira, reforma tributária, reforma urbana, reforma agrária consequente, universalização de qualidade da saúde e educação).

Neste conjunto de tarefas a questão nacional assume a centralidade. Isso é decorrência da etapa do imperialismo, sobretudo nos países da chamada periferia do sistema, que estão submetidos a uma contradição básica: anseio dos povos por mais profundo desenvolvimento e progresso social versus a hegemonia dominante do imperialismo e de seus aliados internos voltados para prevalecer seus desígnios antinacionais. 

O pensamento revolucionário do PCdoB, em desenvolvimento, compreende a visão da construção e gestão de nossa instituição política maior e instrumento imprescindível para aplicação da nossa linha básica e Programa, reduto da nossa ideologia transformadora – o Partido Comunista. 
Reafirmamos a identidade do Partido Comunista do Brasil, que é expressão do desenvolvimento da nossa teoria base, o marxismo-leninismo, partido político da classe trabalhadora destinado à conquista e construção do socialismo, partido patriótico e internacionalista.

A continuidade da opção revolucionária, marxista-leninista, nas condições históricas de nova luta pelo socialismo, se traduz no modo da edificação atual do Partido Comunista. 
Para cumprir sua missão o Partido não se encerra no principismo – restrito à propaganda revolucionária, sem influência no curso político e nas massas – nem deve se tornar um agrupamento possibilista e pragmático.

Concebemos hoje o PCdoB, na exigência da acumulação de forças estratégica, como vanguarda na articulação dialética entre a luta política em todas as suas dimensões, a luta social de massas e a luta de ideias.
 Na sua estruturação perseguimos a formação de um Partido sem alas nem grupos, com um único centro dirigente, com ampla liberdade de opinião e debate de ideias, com unidade ideológica e unidade de ação política. 
Composto por núcleos dirigentes com firmeza e convicção revolucionárias, esteios para construção de um partido orgânico de massas de militantes, voltado para a ação política.

Ao fim e ao cabo a aplicação da linha política e da edificação partidária depende dos quadros, eles são o fator decisivo para aplicação das decisões.
 A nossa política atualizada de quadros procurou responder às novas exigências da linha programática e da construção partidária.

A segunda parte deste artigo versará sobre a aplicação do pensamento revolucionário pelo PCdoB. 

* Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB 


sábado, 7 de setembro de 2013

O nome do jogo da guerra norte-americana: Um mundo mais seguro para os banqueiros

Republicado do redecastorphoto.blogspot.com

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O nome do jogo da guerra norte-americana: Um mundo mais seguro para os banqueiros

5/9/2013, [*] Ellen BrownCounterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Os membros da OMC foram induzidos a assinar o novo acordo; foram ameaçados de ver fechado seu acesso aos mercados globais, se recusassem. Todos assinaram, exceto o Brasil. O Brasil foi então ameaçado com um embargo. Mas a resistência valeu a pena: só o Brasil, de todas as nações ocidentais, sobreviveu e cresceu durante a crise 2007-2009. [1]

Greg Palast
Em artigo de agosto de 2013, intitulado “Larry Summers e o Memorando Secreto Chute-direto-ao-gol [2]” [orig.Larry Summers and the SecretEnd-game Memo” [3]], Greg Palast apresentou provas de um plano secreto, do final dos anos 1990s, construído por funcionários de Wall Street e do Tesouro dos EUA, para abrir as atividades bancárias ao lucrativo negócio dos derivativos.

Para obter esse resultado, era indispensável afrouxar as regulações dos serviços bancários, não só nos EUA, mas globalmente. O veículo a ser usado era o Acordo de Serviços Financeiros [orig. Financial Services Agreement] da Organização Mundial do Comércio.

O “chute-direto-ao-gol” exigia não só coagir os membros da OMC para que apoiassem, mas também assumir o controle nos países que se recusassem a fazê-lo. Alguns países permaneceram como fortalezas contra os avanços da OMC, entre os quais Iraque, Líbia, Irã e Síria.

Nesses países islâmicos, os bancos são predominantemente estatais; e a “usura” – auferir lucro do “uso” do dinheiro – é vista como pecado, quando não como crime. [4] Cria-se assim oposição forte ao modelo ocidental, no qual intermediários privados podem auferir lucro do próprio dinheiro.

Bancos públicos também são ameaça à expansão do negócio de derivativos, porque governos que possam operar seus próprios bancos não precisam manipular taxas de juros nem ficam subordinados a agências privadas que construam tabelas de qualidade do crédito para empurrar as próprias operações.

Banksters
A desregulação dos serviços bancários avançou conforme o plano, e o negócio dos derivativos sancionados e alimentados pelos governos converteu-se num esquema de pirâmide de mais de $700 trilhões. Altamente alavancado, completamente desregulado e perigosamente insustentável, desmoronou em 2008, quando o banco de investimentos Lehman Brothers faliu, arrastando com ele um grande segmento da economia global. Só escaparam os países que contavam com bancos públicos, externos à rede bancária privada internacional.

Nem todos esses países são países islâmicos. 40% dos bancos em todo o mundo são bancos públicosA maioria dos bancos públicos concentra-se nos países BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – quatro países onde vive 40% da população do planeta. Safaram-se da catástrofe global na crise de crédito de 2008, mas todos fizeram, pelo menos, algum “arremedo”, ou deram algum sinal de que se adaptariam às regras bancárias do ocidente.

Mas não as nações islâmicas “bandidas” [rogue states], onde a usura permaneceu proibida pela lei islâmica. Para “libertar” o mundo para a usura, para criar “usura segura”, esses estados islâmicos tiveram de ser silenciados por outros meios.

E afinal, dado que não sucumbiram à coerção econômica, todos entraram na alça de mira dos poderosos exércitos norte-americanos.

Aqui, alguns dados que apoiam essa tese.

O Memorando “Chute-direto-ao-gol”

Em seu artigo de 22/8, Greg Palast postou a fotografia de um memorando de 1997, de Timothy Geithner, então vice-secretário de Negócios Internacionais do secretário Robert Rubin, endereçado a Larry Summers, então vice-secretário do Tesouro dos EUA. No texto, Geithner referia-se ao “chute-direto-ao-gol nas negociações de serviços financeiros na OMC” e exigia que Summers entrasse em contato imediatamente com os presidentes dos bancos Goldman SachsMerrill LynchBank of AmericaCitibank, e Chase Manhattan Bank, cujos telefones privados Geithner informava a Summers.

Banksters
O jogo que estava sendo jogado era a desregulação dos bancos como meio para que pudessem continuar a jogatina no lucrativo novo campo dos derivativos. Para chegar lá, era preciso, para começar, pôr fim à Lei Glass-Steagall, de 1933, que impunha uma porta corta-fogo entre os bancos de investimento e os bancos de depósitos, e visava a proteger os fundos dos depositantes contra a especulação bancária. Mas o plano exigia mais do que apenas a desregulação dos bancos norte-americanos. Era preciso eliminar os controles regulatórios sobre os bancos também no plano global, de modo a impedir que o dinheiro voasse para países com legislação bancária mais protegida contra a especulação. O “chute-direto-ao-gol” seria conseguir essa desregulação global mediante um obscuro adendo aos acordos de comércio internacional policiados pela OMC, o Acordo de Serviços Financeiros [ing. FSA]. Palast escreveu:

Antes de os banqueiros começarem a jogatina, os acordos da OMC só tratavam do comércio de produtos – meu carro, pelas suas bananas. As novas regras que estavam sendo implantadas por Summers e os bancos forçariam todas as nações a aceitar o comércio de ativos “ruins”, tóxicos, como os derivativos financeiros.

Antes de os banqueiros reescreverem os acordos FSA, cada nação controlava e enquadrava os bancos dentro das próprias fronteiras nacionais. As novas regras do jogo forçariam todas as nações a abrir seus mercados ao CitibankJP Morgan e aos seus “produtos” derivativos.

E todas as 156 nações reunidas na OMC teriam de pôr abaixo suas portas corta-fogo, da Lei Glass-Steagall, que dividiam bancos comerciais de depósitos e os bancos de investimentos que jogam com derivativos.

O serviço de converter os acordos FSA em aríete a serviço dos banqueiros foi dado a Geithner, que foi nomeado Embaixador dos EUA na OMC.

Banksters
Os membros da OMC foram induzidos a assinar o novo acordo; foram ameaçados de ver fechado seu acesso aos mercados globais, se recusassem. Todos assinaram, exceto o Brasil. O Brasil foi então ameaçado com um embargo. Mas a resistência valeu a pena: só o Brasil, de todas as nações ocidentais, sobreviveu e cresceu durante a crise 2007-2009. [4] Quanto às demais:

Os novos acordos FSA abriram a caixa de Pandora do comércio mundial de derivativos. Dentre outras transações, foram legalizadas as seguintes: o banco Goldman Sachs (do qual o Secretário do Tesouro fora co-presidente) acertou uma troca secreta de euro-derivativos com a Grécia, que destruiu o país. O Equador, que desregulou e demoliu o próprio sistema bancário, explodiu em tumultos. A Argentina teve de vender suas empresas de petróleo (aos espanhóis) e o sistema de água (à Enron) enquanto professores argentinos tinham de recolher comida nas latas de lixo. Os banqueiros europeus que mergulharam de cabeça nas piscinas de derivativos, mas sem saber nadar, logo se afogaram e, agora, o continente está sendo fatiado e vendido, em pedaços pequenos, baratos, à Alemanha.

As fortalezas “contra”

Aquele foi o destino dos países na OMC, mas Palast não discutiu o destino dos países que não participavam da OMC, entre os quais Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e Iraque. Esses sete países foram chamados pelo general (aposentado) Wesley Clark dos EUA, em entrevista em 2007 a Democracy Now,[vídeo a seguir, em inglês] de os novos “estados bandidos” que os EUA definiu como alvos, depois do 11/9/2001. O general disse que dez dias depois do 11/9, ouviu de um general que a decisão estava tomada, para guerra contra o Iraque. Em seguida, o mesmo general disse que o plano era ocupar os sete países em cinco anos: Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e Irã.


O que esses países têm em comum? Além de serem países de religião islâmica, não são membros, nem da OMC, nem participam do Banco Internacional de Compensações [ing.BIS].Assim, não são alcançados pelo longo braço regulatório do banco dos bancos centrais, na Suíça. Outros países adiante também incluídos como estados bandidos” e que não são membros do BIS são Coreia do Norte, Cuba e Afeganistão.

O corpo que hoje regula os bancos e chamado de Financial Stability Board (FSB) [aprox. Comitê de Estabilidade Financeira], e funciona no Banco de Compensações Internacional (BIS) na Suíça. Em 2009, os chefes de estado dos países do G20 acordaram que aceitavam as regras do FSB, ostensivamente para impedir uma segunda crise global dos bancos. Suas regulações não são apenas consultivas, são cogentes [têm de ser seguidas] e elas podem promover ou quebrar, não só bancos, mas nações inteiras. Foi o que ficou demonstrado em 1989, quando o Acordo Basel I aumentou a exigência de capital em meros 2%, de 6% para 8%. O resultadofoi que a mudança forçou redução drástica nos empréstimos feitos pelos maiores bancos japoneses, que eram então os maiores e mais poderosos distribuidores de crédito do mundo. Mas ficaram descapitalizados, em relação a outros bancos. A economia japonesa afundou com os seus bancos e ainda não se recuperou completamente.

Dentre outras regras para inverter o jogo impostas pelo FSBestão os acordos de Basel III e novas regras de bail-in[5] Pelo acordo Basel III, impuseram-se exigências de capital a bancos comunitários, cooperativos e públicos, que impediram que continuassem a operar e facilitaram a venda a grandes bancos multinacionais.

Banksters
As regras da operação de bail-in foram testadas pela primeira vez em Chipre e seguiram a regulação imposta pelo FSB em 2011. Bancos “grandes demais para falir” devem redigir“testamentos” nos quais exponham o modo como evitarão a insolvência, no caso de não serem resgatados por dinheiro público. A solução criada pelo FSB é jamais oferecer o recurso debail-in a depositantes de bancos comunitários, cooperativos e públicos – o que converte os depósitos de seus depositantes em estoque do próprio banco; na prática, o banco confisca os depósitos.

A alternativa dos bancos públicos

Países submetidos a um sistema bancário “de extração” estão sendo forçados a fazer “ajustes estruturais” e curvar-se à “austeridade” sob o peso de dívidas impagáveis. Mas alguns países conseguiram escapar. No Oriente Médio, são os países que estão sendo atacados pelo exército dos EUA e aliados e parceiros, reunidos sob a designação de “países bandidos”. Os bancos estatais nesses países podem usar o crédito do estado a favor do estado, alavancando fundos públicos para uso público, sem pagar o alto custo da intermediação bancária privada. Abundância de recursos públicos permite oferecer serviços públicos necessários à vida do povo naqueles países.

Como a Líbia e o Iraque já foram envolvidos na guerra, a Síria também oferece educação gratuita em todos os níveis, da escola primária à universidade e assistência pública gratuita universal. Também subsidia a moradia (embora esse programa tenha sido comprometido em 2006, quando o país adotou um programa de ajuste estrutural do FMI e, hoje, pela presença de cerca de 2 milhões de refugiados iraquianos e palestinos). O Irã também oferece universidade subsidiada, quase gratuita e assistência básica à saúde.

Como a Líbia e o Iraque antes da invasão e ocupação, Síria e Irã também têm bancos centrais estatais que emitem a moeda nacional e são controlados pelo estado. Se esses países conseguirão ou não manter a soberania financeira, frente à enorme pressão de que são alvo hoje, pressão econômica, política e militar, só o futuro dirá.


Quanto a Larry Summers, depois de deslizar pela porta giratória entre o governo dos EUA e o mundo privado e tornar-se presidente do Citigroup, foi o maior doador de campanha do então senador Barack Obama. Teve papel crucial na desregulação bancária que levou à crise atual, e levou milhões de cidadãos norte-americanos a perder o emprego e a casa.

Apesar disso, Summers é hoje o nome preferido do hoje presidente Obama para substituir Ben Bernanke na presidência do Federal Reserve. Por quê? Porque é homem que tem comprovada capacidade para manipular o sistema e tornar o mundo mais seguro para Wall Street. E, no mundo às avessas no qual os banqueiros reinam, esse parece ser o nome do jogo.
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[*] Ellen Brown é advogada, presidente do Public Banking Institute e autora de doze livros, incluindo o best-seller Web of Debt. Em The Public Bank Solutionseu mais recente livro, ela explora modelos bancários públicos bem-sucedidos, historicamente e no mundo. 

Seus sites são: 


Notas dos tradutores

[1] Dia 1/1/2007, o presidente Lula assumiu a presidência, para seu segundomandato. Disse que “Não faltaram os que, do alto de seus preconceitos elitistas, tentaram desqualificar a opção popular como fruto da sedução que poderia exercer sobre ela o que chamavam de “distribuição de migalhas”. Os que assim pensam não conhecem e não entendem este país. Agora se trata de crescer com pressa, ousadia, coragem e criatividade”. Grande Lula! Grande Dilma! Viva o Brasil!

[2] A expressão aplica-se a uma jogada para “resolver” o jogo. No xadrez diz-se “fechamento”; no futebol se diria “decidir o jogo”. Geithner, em seu memorando, pensava em beisebol. A solução aqui oferecida para a tradução, “pensa” em futebol. Pode ser melhorada. Todas as correções e sugestões são bem vindas.

[3] Para ter ideia aproximada do que são as “finanças islâmicas” há alguma coisa razoavelmente aproveitável, em português, em: “A brasileira das finanças islâmicas”.
Presidente Lula

[4] Dia 1/1/2007, o presidente Lula assumiu a presidência, para seu segundo mandato. Disse que:

Não faltaram os que, do alto de seus preconceitos elitistas, tentaram desqualificar a opção popular como fruto da sedução que poderia exercer sobre ela o que chamavam de “distribuição de migalhas”. Os que assim pensam não conhecem e não entendem este país. Agora se trata de crescer com pressa, ousadia, coragem e criatividade.

Grande Lula! Grande Dilma! Viva o Brasil!

[5] Acontece operação de bail-in quando, antes de uma falência, os reguladores têm o poder de impor a perda a alguns acionistas e preservar outros de igual estatura – como os detentores de derivativos. Permitindo, em teoria, resolver rapidamente os problemas de instituições doentes, a operação de bail-in removeria a incerteza e ajudaria a dar estabilidade ao sistema financeiro. As operações de bail-in têm enervado os acionistas, porque não são falências tradicionais, para as quais há regras estritas e o processo é supervisionado, com os credores organizados numa sequência, para serem reembolsados e todos têm de ser tratados em condições de igualdade. (Financial Times, Lexicon)