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sábado, 4 de junho de 2016

Complô contra Dilma envolveu políticos e STF

Do blogdomiro

2/06/16
Por André Barrocal, na revista CartaCapital:

Romero Jucá e Sérgio Machado são velhos amigos. Senadores pelo PSDB no governo Fernando Henrique, aderiram via PMDB à gestão Lula e hoje estão enrolados na Operação Lava Jato. Foi em nome dos bons tempos que Jucá abriu a porta de casa quando Machado chegou de surpresa logo cedo em meados de março.

Conversaram longamente sobre a situação política e econômica do País. E também a policial. Especialmente a policial. Com a Lava Jato no encalço de Machado, Jucá comentou estar na política a salvação do amigo e dos figurões em geral.

Um acordão nacional de contenção dos estragos, com a necessária bênção do Supremo Tribunal Federal (STF). “Delimitava onde está, pronto”, disse. Segundo ele, havia, porém, um obstáculo ao pacto, Dilma Rousseff, então na Presidência da República.

Uma visão compartilhada, salientou, por ministros do STF com os quais falara na véspera. “Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca.” Conclusão de Jucá: “Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”.

A conversa não deixa dúvidas, razão para Jucá, um dos generais do governo provisório de Michel Temer, ter perdido o emprego de ministro do Planejamento após meros 13 dias no cargo. O impeachmentmoveu-se por uma conspiração contra o combate à alta corrupção personificado na Lava Jato, e não somente pelos erros políticos e econômicos de Dilma e pela fúria da oposição contra o PT.

Uma constatação reforçada por outros dois interlocutores peemedebistas de Machado, o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos gravados às escondidas, ao que parece, como aconteceu no caso de Jucá.

Nos contatos com os três próceres do PMDB, Sérgio Machado aparenta estar desesperado em busca de socorro para fugir do juiz Sergio Moro e da cadeia. Puro teatro. Naquele momento, o ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, era um delator a serviço do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cujas investigações na Lava Jato apontam “indícios bastante seguros” contra ele.

Não importa quem fosse o interlocutor de Machado, todos mencionavam uma única saída para resolver o problema: a derrubada de Dilma Rousseff. “Já suspeitávamos. Oimpeachment era para garantir a impunidade de certos atores. É muito importante que a população perceba esse engodo”, afirma Eugênio Aragão, último ministro da Justiça de Dilma e ex-subprocurador-geral da República. “São atores demais envolvidos nesse golpe. Foi só o começo, vai vir mais.”

O que se soube até agora, a partir das conversas gravadas por Machado e divulgadas pelaFolha de S.Paulo, adicionou incerteza ao futuro do governo interino. O anúncio do pacote econômico com o qual Temer espera cativar o “mercado” e o grande capital, na terça-feira 24, um dia após o affair Jucá, acabou ofuscado. Entre as medidas sinalizadas, duas exigem sacrifício do Congresso, limitar gastos com saúde e educação e reformar a Previdência, planos difíceis de vingar com o sistema político entre anestesiado e apreensivo.

O desconforto político do presidente interino tende a crescer. E não só pela desconfiança sobre eventuais outras gravações de Machado. A delação premiada do ex-senador acaba de ser homologada pelo STF. Agora Janot está com as cartas na mão. Resta saber o que fará com elas e como ditará o rumo da política em Brasília. O procurador-geral, ressalte-se, tem sido cirúrgico em suas intervenções.

A incógnita nascida da notícia das gravações e da delação serviu para injetar algum ânimo no PT na complicadíssima tarefa de derrotar o impeachment no Senado. Com o apoio de outras três legendas, senadores petistas cobraram de Janot a apuração da conspiração anti-Lava Jato sugerida por Jucá. O próximo passo será acionar o STF para tentar anular oimpeachment.

Em reunião um dia após a queda de Jucá, Dilma, Lula e parlamentares petistas avaliaram ter aparecido uma luz no fim do túnel. Se a ideia da conspiração “pegar”, talvez leve um ou outro congressista a recuar e rejeitar a deposição. O problema é o dia seguinte. No PT, não há ilusão sobre a capacidade de Dilma concluir o mandato em 2018, pela falta de condições de diálogo com o establishment brasiliense e o econômico. Daí a crescente defesa de novas eleições (a propósito, leia reportagem de Rodrigo Martins). 

A delação de Machado tem tudo para detonar o PMDB, legenda de Temer e de seus padrinhos, Calheiros à frente, em seus 12 anos na Transpetro. Talvez sobre até para o PSDB, segunda sigla com mais ministros no governo interino. Disse Sarney ao mais novo delator sobre os tucanos: “Eles sabem que não vão se safar”. Jucá afirmou algo parecido: “Caiu” a ficha de Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira e José Serra, declaração merecedora de uma nota de autodefesa do partido. “Não existe nos diálogos nenhuma acusação ao PSDB e aos senadores citados.” De fato não há, mas impressiona a recorrência de menções a Aécio quando o assunto é a Lava Jato. A Machado, Calheiros disse que “Aécio está com medo” e o havia procurado para saber se Delcídio do Amaral, senador recentemente cassado, delataria o mineiro.

Para sorte de Aécio, Gilmar Mendes, ministro do Supremo, tem se mostrado neste caso bastante compreensivo. Na condição de relator, Mendes acaba de devolver ao procurador-geral mais um processo solicitado contra o senador tucano. O primeiro referia-se a um esquema de propina em Furnas, quando Aécio era o governador de Minas Gerais e tinha um dirigente apadrinhado na estatal, Dimas Toledo. O mais recente diz respeito à manipulação de dados enviados por um banco mineiro à CPI que apurou o “mensalão” do PT, de modo a esconder o “mensalão” do PSDB.

O ministro cobra de Janot provas de que os inquéritos são necessários. Mendes passou a presidir a turma do STF que julgará os casos da Lava Jato. Seria um dos integrantes do Supremo ouvidos por Jucá a respeito do pacto para “estancar a sangria”? Entre eles, é improvável que esteja o relator dos processos da Lava Jato no STF, Teori Zavascki, apontado tanto por Jucá quanto por Sarney como um juiz inacessível.

As inconfidências dos peemedebistas nas gravações elucidam um pouco mais o trâmite doimpeachment. Março, o mês das gravações, foi decisivo. De um lado, os antipetistas preparavam o clima para as manifestações anti-Dilma no dia 13, com o vazamento da delação de Delcídio do Amaral. De outro, o Planalto lançava a ideia de Lula assumir um ministério, proposta minada pelo pedido de prisão do ex-presidente do Ministério Público de São Paulo, a divulgação por Moro de conversas ilegalmente gravadas entre o ex-presidente e Dilma e a liminar de Gilmar Mendes que suspendeu a nomeação.

Nos subterrâneos, Calheiros tentava fazer a ponte entre tucanos e petistas, em conversas sobre parlamentarismo, cassação da chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral e a ida de Lula para o ministério. Não deu. “Nenhuma saída para ela (Dilma). Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela”, disse Sarney a Machado. 

Nem a TV Globo nem o Supremo, segundo as conversas de Calheiros com Machado. Em dado momento, o presidente do Senado revela que Dilma havia se encontrado com João Roberto Marinho, um dos herdeiros do conglomerado de mídia. A conversa, define, teria sido desastrosa. “Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir (na cobertura). Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo.”

A presidenta também se reuniu com Otávio Frias Filho, diretor da Folha de S.Paulo, que teria admitido excessos na cobertura do jornal. Em outro trecho, Calheiros relata o que ouviu de Dilma sobre uma reunião com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski. “Renan, eu recebi aqui o Lewandowski querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável.” Curiosidade: o magistrado arrancou uma promessa de aprovação do reajuste por parte de Eduardo Cunha antes de este ser afastado da Câmara.

No fim de março, Jucá, então vice-presidente do PMDB prestes a assumir o comando da legenda em substituição a Temer em um acerto com este, liderou a decisão partidária de romper com Dilma. Hoje sente-se credor da ascensão do correligionário ao Planalto, com articulações e promessa de cargos aos presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do PSD, Gilberto Kassab, entre outros. Voltou ao Senado, onde é alvo de um pedido de cassação apresentado pelo PDT, aborrecido com o interino.

Ele não pretendia deixar o governo quando sua gravação veio a público. Concedeu entrevista coletiva para se explicar e em seguida correu ao Planalto para dizer que considerava ter se saído bem e era inocente. Não entusiasmou. Suas declarações, disse, foram tiradas de contexto. E analisou: a sangria a ser estancada seria a econômica, não a da Lava Jato. Como se a transcrição da gravação não fosse longa o bastante para permitir a devida contextualização.

A falta de camaradagem de Temer tinha motivo. Foi o primeiro teste para o alegado compromisso do interino com o prosseguimento da Lava Jato. Havia (e ainda há) motivos para desconfiar de sua sinceridade. Parceiro de Temer, Eduardo Cunha, um conspirador contra a Lava Jato, não comandou o impeachment para acabar preso. Muito menos para ser mero expectador que ele instalou aliados no governo provisório.

Jucá seria uma dessas infiltrações, segundo afirmou Dilma Rousseff a CartaCapital em entrevista recente. Logo após a divulgação da gravação do senador, um auxiliar do interino, Rodrigo Rocha Loures, paranaense como o juiz Moro, disse à Folha de S.Paulo ter conversado com dois procuradores da força-tarefa, ainda às vésperas do impeachment, para sondar as preocupações deles e levá-las a Temer. Outra tentativa de provar apoio à operação.

Consumada a demissão de Jucá na segunda-feira 23, Temer reuniu-se à noite com aliados no Palácio do Jaburu, sua residência oficial. Entre os presentes, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, outro na mira da Lava Jato e candidato à próxima degola. Temer quis saber se não era melhor Alves deixar o cargo antes de sofrer um bombardeio político e midiático.

O ministro deu de ombros. Comentou ser “irrelevante” as suspeitas contra ele. Opinião diferente tem Janot. Para o procurador-geral, há “indícios bastante seguros” da participação de Alves na corrupção descoberta pela Lava Jato. Por isso a PGR requereu ao STF no início de maio a inclusão do ministro no maior inquérito decorrente das apurações, o 3.989, de março de 2015.

Alves está em apuros por suas ligações com Cunha, a quem passou o bastão da liderança do PMDB na Câmara, em 2013, e do comando da Casa, em 2015. Graças ao vínculo, é citado em um inquérito instaurado em março pelo STF contra o deputado afastado, o 4.207. Em delação premiada, os empreiteiros Ricardo Pernambuco e seu filho Junior relatam que a construtora da família, a Carioca, teria sido obrigada a pagar propina para obter empréstimo do “fundo de investimento” do FGTS em troca de obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.

Cunha tinha um protegido, Fabio Cleto, na diretoria da Caixa Econômica Federal, órgão gestor do FGTS, por meio do qual podia dificultar a concessão de empréstimos. Entre os contemplados com suborno pela Carioca estaria Alves, na forma de doação eleitoral quando o peemedebista disputou o governo potiguar em 2014. Ele recebeu 400 mil reais da empreiteira, em duas parcelas. 

Embora citado, o ministro não aparece neste inquérito na condição de investigado. Mas o é em outra suspeita de “propina disfarçada de doação”. De braços dados com Cunha, para variar, em um inquérito solicitado por Janot ao STF colocado sob segredo de Justiça. Mensagens trocadas por celular entre Cunha e um ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, dão a entender que o peemedebista pressionou a construtora para financiar Alves na eleição de 2014. O ministro do Turismo recebeu 650 mil reais da OAS, em três vezes. Em uma das mensagens de celular apreendidas pela Lava Jato, Pinheiro escreve: “Eduardo Cunha é o grande articulador de Henrique Alves”. 

As inconfidências de Jucá alimentaram insatisfações entre legalistas anti-impeachment. No dia da revelação da gravação, Temer foi ao Congresso entregar um projeto de lei, gesto raríssimo, e acabou premiado com gritos de “golpista”, entoados por um grupo de funcionários do Legislativo e dois deputados do PT, o gaúcho Paulo Pimenta e a baiana Moema Gramacho.

A bronca com o interino independe, porém, das gravações. Na véspera, uma praça nas imediações de sua residência particular em São Paulo tinha sido tomada por manifestantes ligados a movimentos sindicais, de sem-teto e de jovens, integrantes da Frente Povo Sem Medo. Para impedir a aproximação dos protestos, a segurança oficial fechou as ruas de acesso ao apartamento. Incomodado, o peemedebista antecipou a volta a Brasília. 

Na capital federal, o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, tem sua principal via de acesso controlada por seguranças, esquema capaz de manter os portões do local livres de manifestantes. Um procedimento constrangedor para Dilma, pois a via controlada é a mesma que leva ao Palácio da Alvorada, sua moradia até o desfecho doimpeachment. Só é possível falar com a petista após identificar-se à segurança de Temer, situação ainda por ser contornada com a adequação de uma alternativa via de acesso ao Alvorada. Dias atrás, o vice-presidente do Senado, o petista Tião Viana, foi ao encontro de Dilma e reclamou em seguida, da tribuna do Senado: “Há um controle absoluto de qualquer um que queira ter qualquer tipo de contato com a presidente.”

Temer esperava por protestos desde antes da interinidade e tomou providências, conforme se soube nas inconfidências de Jucá. “Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar”, disse o senador, em referência ao pós-impeachment.

Ao reunir-se com parlamentares aliados no Planalto na terça-feira 24, Temer mostrou-se irritado com o cerco, embora tenha tentado mostrar o contrário. “Tenho sido vítima de agressões, eu sei como funciona isso, uma agressão psicológica, para ver se amedronta o governo. Nós não temos a menor preocupação com isso.” Sentiu-se obrigado até a explicar recuos no poder, como a volta do Ministério da Cultura. “Tenho visto: ‘Ah, mas o Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar’. Conversa!”, afirmou em pose autoritária, a bater a mão esquerda à mesa. “Fui secretário de Segurança Pública duas vezes em São Paulo e tratava com bandidos. Eu sei o que fazer no governo.”

O chanceler do governo provisório, José Serra, é outro a sofrer com a pecha de golpista. Saboreou o gosto em sua primeira viagem internacional, a Buenos Aires, onde na segunda-feira 23 encontrou-se com sua homóloga, Susana Malcorra. Por onde passou, esbarrou no cartaz “Procura-se José Serra, chanceler impostor do Brasil golpista”. Ele anda tão irritado com a disseminação global da ideia de golpe que mandou distribuir às embaixadas brasileiras uma circular na qual ordena que tais argumentos sejam “ativamente combatidos”.

Seria a diplomacia brasileira capaz de convencer, por exemplo, o papa Francisco? Na quinta-feira 19, o pontífice recebeu no Vaticano representantes do Conselho Episcopal Latino-Americano e comentou: o Brasil passa por um “golpe branco”. E ele nem tinha ouvido ainda as inconfidências de Jucá. 

***

Diálogos indecorosos

(Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado, Jose Antonio Teixeira e iStockPhoto)

“É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional” - Conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado

Trecho 1 – Lava Jato

Jucá: Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

Trecho 2 – Lava Jato

Machado: Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

Jucá: Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. “Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha.” Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

Machado: É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

Jucá: Com o Supremo, com tudo.

Machado: Com tudo, aí parava tudo.

Jucá: É. Delimitava onde está, pronto. 

Trecho 3 - Aécio

Machado: O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

Jucá: Todos, porra. 
E vão pegando e vão...

Machado: O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara?

[…]

Machado: É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...

Jucá: Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

Machado: O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...

Jucá: É, a gente viveu tudo.

Trecho 4 - STF

Jucá: Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem “ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca”. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

Acesso a Teori Zavascki

Diálogo entre Sérgio Machado e José Sarney

Machado: Porque realmente, se me jogarem para baixo aí... Teori ninguém consegue conversar.

Sarney: Você se dá com o Cesar. Cesar Rocha.

Machado: Hum?

Sarney: Cesar Rocha.

Machado: Dou, mas o Cesar não tem acesso ao Teori não. Tem?

Sarney: Tem total acesso ao Teori. Muito muito muito muito acesso, muito acesso. Eu preciso falar com Cesar. A única coisa com o Cesar, com o Teori é com o Cesar.

“Todos estão putos com ela”

Conversa entre Renan Calheiros e Sérgio Machado

Trecho 1 – Fator Globo

Machado: Mas mesmo que tivesse, você não ia dizer, porra, não ia se fragilizar, não é imbecil. Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan.

Renan: Eu marquei para segunda-feira uma conversa inicial com [inaudível] para marcar... Ela me disse que a conversa dela com João Roberto [Marinho] foi desastrosa. Ele disse para ela... Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir. Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo.

Trecho 2 – STF

Renan: E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].

Machado: Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela.

Renan: Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda – estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada – aí ela disse: "Renan, eu recebi aqui o Lewandowski, querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. 
O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável".

Trecho 3 – PSDB

Machado: E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.

Renan: E tudo com medo.

Machado: Renan, não sobra ninguém, Renan!

Renan: Aécio está com medo. [Me procurou:] "Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa".

Machado: Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Wikileaks mostra que Temer é ainda mais próximo dos EUA, diz Greenwald

ENTREVISTA

Brasil de Fato

Jornalista revela que novos documentos demonstram que presidente interino contribui em espionagem

Rio de Janeiro (RJ), 

Nascido nos EUA, Glenn atualmente é correspondente do jornal The Intercept no Rio de Janeiro. / Reprodução

Glenn Greenwald é o jornalista responsável por um conjunto de matérias que revelou ao mundo as espionagem do governo dos Estados Unidos por meio da Agência Nacional de Inteligência (NSA, sigla em inglês). Entre as espionadas estava a presidente Dilma Rousseff.

Nascido nos EUA, Glenn atualmente é correspondente do jornal The Intercept no Rio de Janeiro e foi o primeiro jornalista a entrevistar Dilma após a votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, em 17 de abril deste ano.

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato - O site Wikileaks chegou a denunciar que o presidente interino Michel Temer seria informante dos Estados Unidos. O que você pensa dessa relação?

Glenn Greenwald - Quando o Wikileaks divulgou esses documentos pela primeira vez, quatro anos atrás, foram feitas algumas matérias no jornal Folha de S. Paulo e em outros jornais. Na época, ninguém prestou muita atenção porque as pessoas não se importavam muito com Temer. Mas agora, claro, o foco está nele. O que o Wikileaks disse agora é que o Temer está espionando o Brasil, junto aos Estados Unidos. Esse documento mostrou um comportamento muito raro, muito estranho, muito suspeito. Para mim esse documento subiu o nível da espionagem ou traição. Eu acho que esses registros são muito interessantes porque mostram que Temer é muito próximo dos EUA. Tem muitas pessoas achando que esse impeachment é para afastar o Brasil dos Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. Querem o país longe da China e mais próximo dos EUA. E esse documento é uma evidência de que o presidente é uma pessoa que tem um relacionamento muito próximo com os EUA. Na realidade ele estava passando informação não pública a um governo estrangeiro. Acho que, pelo menos isso, deve ser investigado.

Como você vê a postura dos EUA nesse processo de impeachment no Brasil?

Essa questão sobre o envolvimento dos EUA com a política interna do Brasil é muito sensível porque todos os brasileiros, ou a maioria do povo, sabem que os EUA estiveram envolvidos no golpe de 1964 e que apoiou muito a ditadura.

Quando a presidente Dilma deu uma entrevista à RT [canal Russia Today] ela disse que não tinha evidências de que os EUA estariam envolvidos [no processo de impeachment]. O que eu posso falar, com certeza, é que o governo dos EUA tem uma preferência pelo governo Temer, se comparado ao governo do PT [Partido dos Trabalhadores].

O governo Temer oferece muito mais benefícios aos EUA, aos bancos estadunidenses e ao capital de Wall Street [mercado financeiro]. Então, acho que talvez eles não estejam apoiando o processo, mas aprovando, mostrando que eles não vão impedir. Um dia após a votação na Câmara dos Deputados, o líder da oposição, o senador Aloysio Nunes, foi para Washington e encontrou com políticos do alto escalão do governo dos EUA. Ele disse que estava indo dar informações, dizer que não é um golpe. Claro que quando um líder da oposição se encontra com membros do governo em Washington, nesse momento tão importante e sensível, levanta suspeita sobre o papel dos EUA nesse processo.

Como você avalia a cobertura da mídia brasileira no processo de impeachment? 

Eu fiz reportagens em muitos países do mundo nos últimos oito anos e eu nunca vi uma mídia se comportando assim como a brasileira. Três famílias ricas são donas de quase todos os grandes meios de comunicação. Quase o total deles unidos contra o PT, contra o governo de Dilma, apoiando o impeachment. Os jornalistas que trabalham nessas organizações estão, quase que em sua unanimidade, apoiando o impeachment. Não estão fazendo jornalismo, não estão priorizando a pluralidade de opiniões. Estão fazendo propaganda para os donos dessas organizações para derrubar o governo que os donos [dos meios de comunicação] não gostam. Estão trabalhando para colocar o governo que eles preferem. Isso pra mim é uma ameaça, não só à liberdade de imprensa, mas também à democracia. Essas organizações têm a responsabilidade de informar o público, mas fazem o contrário. Estão distribuindo propaganda. A parte boa é que, agora, com a internet, essas organizações não podem mais controlar toda a informação que os brasileiros estão recebendo. Também há muitos jornalistas estrangeiros no Brasil, que não são controlados por essas organizações, e que estão fazendo reportagens sobre as mentiras dos líderes do impeachment. As informações que os brasileiros recebem estão mais diversificadas. Acho que essas organizações brasileiras estão perdendo o controle que eles tiveram por muito tempo.

Como você avalia as movimentações recentes da direita na América Latina com a vitória de Macri, na Argentina; a derrota da esquerda no referendo da Bolívia; os golpes contra Fernando Lugo, no Paraguai e Manuel Zelaya, em Honduras?

É preciso dividir as situações. A direita ganhou as eleições na Argentina de maneira mais ou menos limpa e justa. Também no Bolívia teve eleição para manter o limite do mandato do presidente Evo Morales. Se o povo quer votar por mudança, ele tem o direito de fazer. Já em países como Paraguai ou Honduras, assim como no Brasil, e também na Venezuela, existe esse movimento em que governos de esquerda, que foram eleitos, estão sendo tirados por políticos de direita que não foram eleitos.

Podemos observar esses dois movimentos de direita na América Latina. Um que é justo, pois acontece em eleições, e tem outra parte que é atacando à democracia. Precisamos considerar essas diferenças quando analisamos.

Qual sua opinião sobre o processo de impeachment contra Dilma Rousseff?

Acho que agora está muito mais claro que o impeachment não tem nada a ver com corrupção. O PT ganhou quatro eleições seguidas e os mais ricos, as pessoas mais poderosas, não conseguiram derrotar o PT dentro da democracia. Os problemas econômicos e a impopularidade de Dilma serviram como oportunidade para eles finalmente tirarem a presidente e destruírem o PT fora do processo democrático. O impeachment é só isso: as frações mais ricas, mais poderosas, explorando a oportunidade de mudar o governo que eles não conseguiram tirar nas eleições democráticas.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Cultura do Estupro revela "machismo 2.0". Por Wilson Ferreira

Publicamos neste blogdoorro o artigo do cientista Wilson Ferreira, que procura analisar o machismo como base da cultura do estupro - uma mulher é estuprada no Brasil a cada 11 minutos. 

O vídeo a seguir denuncia a exploração e exposição da mulher como objeto nas TVs de vários países. 

Que o artigo e o vídeo permitam refletir e conscientizar de que um sociedade de respeito e igualdade entre os gêneros é possível. 


blogdoorro 
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Cultura do Estupro revela "machismo 2.0". Por Wilson Ferreira

Jornal GGN

WILSON FERREIRA

Por Wilson Ferreira*

A grande mídia escandaliza-se com o estupro coletivo de uma menina no Rio de Janeiro e clama por um país menos machista e sexista. Mas por anos deu espaço para frotas e gentilis, enquanto sua programação sempre foi patrocinada por anúncios onde a mulher-objeto-fetiche é a isca principal para produtos e serviços. A chamada cultura do estupro deve ser contextualizada no surgimento do “machismo 2.0”: uma nova forma de sexismo cujas bases estão lá na velha ordem patriarcal, mas que agora é repaginado e turbinado pelo complexo sociedade de consumo/indústria publicitária/grande mídia, capazes de criar uma nova cadeia de produção imaginária: voyeurismo-exibicionismo-sadismo. Imaginária, mas com sérias repercussões no mundo real.

O que mais chama a atenção no debate atual sobre a chamada “cultura do estupro”, principalmente com o impacto das notícias sobre o episódio do estupro coletivo ocorrido em uma comunidade no Rio de Janeiro, é que em todas as falas aponta-se unicamente para uma cultura “machista e sexista” arcaica e retrógrada que seria a responsável pelas 50 mil notificações anuais de crimes sexuais no País.

Mas são poucos aqueles que lembram de fatores mais contemporâneos: a sociedade de consumo e a cultura midiática. Aproxima-se a cultura do estupro de uma “cultura da superioridade” resultante de uma educação onde para os meninos é mostrada a sua suposta superioridade natural em relação às meninas. Porém, essa cultura machista é restrita à crítica a uma ordem patriarcal e masculina. Uma reação da cultura machista ao crescente protagonismo feminino na sociedade.

Como sempre, a grande mídia põe à mostra sua natureza esquizofrênica ao repercutir o episódio:

(a) Escandaliza-se, mas por outro lado nos últimos anos deu espaço midiático a frotas, gentilis, felicianos, a chamada bancada da bala, da Bíblia e do Boi no Congresso e toda sorte de personagens mais retrógrados, retirados do fundo da caixa de Pandora para afrontar, desestabilizar e finalmente derrubar o governo Dilma;

(b) Tem sua grade de programação diária patrocinada por filmes publicitários que promovem produtos e serviços onde a mulher é exposta como isca, objeto sexual ou colocada em plots onde é apresentada como naturalmente submissa ao poder físico ou financeiro masculino. O telejornal mostra âncoras e entrevistados indignados para pouco tempo depois mostrar o anúncio do “vai verão, vem verão” de uma conhecida marca de cerveja com uma mulher segurando uma bandeja em trajes sumários.

Produção imaginária

Acredito que é a partir dessa natureza esquizoide da grande mídia que a questão da cultura do estupro deve ser discutida. Mais precisamente, a partir da ordem sociedade de consumo/indústria publicitária/grande mídia. Uma ordem mais poderosa e que se sobrepôs à ordem patriarcal, a origem de todo o machismo, por assim dizer, tradicional que estaria por trás do revoltante episódio do estupro coletivo. 

Esse machismo da velha ordem patriarcal deu lugar a um, digamos, machismo 2.0, dessa vez repaginado e turbinado pela sociedade de consumo e indústria publicitária para ser veiculado pela grande mídia.

Estupro não é uma questão de prazer ou tesão, mas de poder: poder de dominar o corpo do outro (sadismo), para mostrá-lo como uma conquista em vídeos ou fotos em redes sociais (exibicionismo) para o prazer anônimo de onanistas (voyeurismo).

Essa cadeia de produção imaginária é análoga a da promoção do consumo, mudando apenas a ordem dos elementos da cadeia:  pessoas que veem imagens distantes do objeto do desejo nos anúncios (voyeurismo) sonhando possuí-los e ostentá-los (exibicionismo) como moeda social para se impor sobre o outro (sadismo).   

Freud explica?

Esse machismo 2.0 se fundamenta nas mesmas origens da ordem patriarcal, em torno do chamada matriz fálica descrita pela psicanálise freudiana – o primeiro simbolismo introjetado pela criança, o simbolismo universal de poder sobre o qual o papel sexual masculino será estruturado. O Falo como a “premissa universal do pênis”, a louca crença infantil que não existe diferença entre os sexos, todos têm um pênis. Existe apenas um órgão genital, e tal órgão é masculino.

Essa fantasia de origem narcísica primária é diluída com a descoberta do outro: algumas crianças não têm pênis o que para o homem corresponderá à fantasia da “perda do pênis” ou aquilo que Freud descreveu como “complexo de castração”, o ponto frágil da afirmação sexual masculina.

Esta imagem da perda permanecerá para sempre associada ao psiquismo masculino de forma traumática e o medo da castração continuará perseguindo a realização sexual como um fantasma. No adulto, o medo da castração não se manifestará dessa forma tão literal: a castração se manifestará no medo da impotência (seja sexual, financeira ou social). Por isso, o homem estará condenado a ter que provar continuamente que jamais será castrado, será empurrado para situações onde terá de, continuamente, provar a masculinidade e a potência fálica: no desempenho sexual atlético, nos ganhos financeiros, na habilidade em manipular símbolos de status e prestígio, etc.

Esta ansiedade vai marcar negativamente a qualidade das relações com o sexo oposto. A forma de o homem perceber a mulher será prejudicada ao ver nela nada mais do que um campo de provas da potência fálica. A ansiedade da comprovação fálica empurrará o psiquismo masculino a procurar não a mulher, mas mulheres, num sentido genérico e abstrato. O investimento afetivo toma‑se difícil e transitório.

A simples presença da mulher torna‑se uma ameaça à segurança fálica masculina. Ela significa, per si, a cobrança de uma tomada de posição ou a castração em potencial: a possibilidade do fracasso. Por isso ela deve ser dominada, neutralizada. O corpo feminino deve ser reduzido a fragmentos, a objetos, para ser melhor dominado. É o surgimento do fetichismo sexual. O corpo real feminino é neutralizado pelo fascínio por fragmentos: pés, olhos, cabelos, ou acessórios associados a alguma destas partes como sapatos, luvas, etc.  

Machismo 2.0 e a cultura do estupro

O que era fragilidade e ansiedade originada no medo da castração, com o complexo sociedade de consumo/publicidade/mídia tudo isso é amplificado com o pânico da castração.  

A presença constante da mulher como objeto promotor de mercadorias de luxo ou de marcas corresponde ao desafio da potência masculina: “quer uma mulher como essa? Pois então compre um carro como esse. Prove que jamais será castrado!”. Para Freud a ansiedade da castração jamais é resolvida no psiquismo masculino, tornando-se uma inesgotável ferramenta de promoção de consumo de bens com alto valor agregado.

A cada anúncio de cerveja com mulheres que servem aos homens com uma bandeja, a cada filme com uma mulher fascinada olhando para um carro dirigido por um homem vitorioso e a cada feira ou exposição com atraentes modelos se oferecendo como isca ou miragem, a mulher torna-se na atualidade num suporte/meio/condutor da promessa de realização da potencia fálica.

Se na antiga ordem patriarcal, a mulher sempre foi uma ameaça que tinha de ser neutralizada como um objeto (seja como dona de casa sem direitos, seja como prostituta reduzida à condição de objeto-fetiche), hoje com a ordem globalizada de consumo a mulher foi promovida a uma moeda genérica de troca.


*WILSON ROBERTO VIEIRA FERREIRA

Mestre em Comunicação Contemporânea pela Univ. Anhembi Morumbi. Doutorando em Meios e Proc. Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Univ. Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comun. Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.



quarta-feira, 1 de junho de 2016

O xadrez da irresponsabilidade fiscal do presidente interino


O desenho que emerge dos primeiros dias de presidente interino é um autêntico mapa do inferno.

Perdeu-se qualquer veleidade de apresentar um projeto minimamente legitimador ao país, do interino colocar-se como mediador visando recuperar a economia com o mínimo de danos às políticas centrais, conduzir o país para o porto seguro das eleições de 2018, preservando avanços e coibindo abusos.

A ordem é fechar qualquer acordo que garanta a manutenção do poder, para avançarem sem dó sobre o orçamento exclusivamente para atender à fome das hordas bárbaras. Lembra uma gincana de tirar o máximo possível no menor tempo.

Confira.

De cara, conseguiram a aprovação para ampliar o rombo orçamentário para R$ 170 bilhões.

Ora, o fundamento político para o afastamento de Dilma Rousseff foi o descontrole fiscal, devido às benesses de 2013 e 12014 e ao ajuste desastroso de 2015, que jogou a economia no buraco. Não faltaram estudos explicitando o aumento de gastos públicos.

De qualquer modo, mesmo os erros brutais cometidos tinham uma justificativa macroeconômica: segurar o aumento do desemprego e dar condições às empresas nacionais para competir com os produtos importados.

Depois do desastre do pacote Levy, durante meses o ex-Ministro da Fazenda Nelson Barbosa tentou medidas de flexibilização do orçamento obedecendo a uma lógica macroeconômica responsável: devolver alguma margem ao governo para reativar a economia pelo lado dos investimentos públicos e das concessões impedindo o aprofundamento da crise.

O governo Dilma é afastado e o interino assume, com seu poder lastreado na horda de bárbaros que assumiu o controle da Câmara.

A primeira medida foi ampliar o rombo orçamentário para R$ 170 bi.

Algumas justificativa macroeconômica? Nenhuma.

Para economizar, estão sendo efetuados os seguintes cortes:

·      Redução dos recursos do BNDES para a indústria.

·      Redução das verbas do Minha Casa Minha Vida para um terço do previsto, significando a eliminação do subsídio para as faixas de menor renda.

·      Divulgação maliciosa de estudos sobre fraudes no Bolsa Família (devidamente desmentidos por Tereza Campelo, ex-Ministra do Desenvolvimento Social), visando capar o programa.

·      Tentativa de obter o equilíbrio fiscal no médio prazo através do achatamento progressivo das verbas de educação e saúde.

E, afinal, para onde vão os R$ 170 bi?

Segundo a jornalista Helena Chagas, do site "Os Divergentes" (http://migre.me/tZ921), ontem o presidente interino Michel Temer concordou com a votação, em regime de urgência, dos projetos de aumento salarial de funcionários públicos que estão empacados no Congresso. De uma só vez, haverá aumento para servidores do Judiciário, carreiras do Executivo, funcionários da Câmara e do Senado. Segundo Temer, numa notável demonstração de senso de justiça, “quero tratar os três poderes de forma equânime”.

As sobras serão distribuídas para os Ministérios, descontingenciando o que for de interesse pessoal do Ministro, já que não existe nenhuma estratégia formulada. Ou seja, o pacto conduzido por Temer reduz verbas não permanentes – como Bolsa Família e MCMV – e aumenta gastos permanentes, como os proventos da burocracia estatal.

Em outros campos, o mesmo espírito de pilhagem. Ontem, a AGU (Advocacia Geral da União) manifestou-se no Supremo em favor da distribuição de concessões de rádio e TV a políticos com mandato.

É assim que pretende convencer empresários e investidores internacionais sobre os compromissos fiscais? Abre-se mão de prioridades nacionais – como educação, saúde, inovação, financiamentos de longo prazo – para dividir o bolo e cooptar as corporações públicas, pretendendo comprar sua cumplicidade.

Nesses primeiros dias de governo, está emergindo uma agenda tão clamorosamente antissocial, com tal dose de insensibilidade que parece surgir dos tempos das cavernas. Nem se exige responsabilidade social do interino, mas supunha-se que se guiasse por um mínimo de esperteza política.

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¿Se inicia la Nueva Re-conquista de América?

RT Actualidad


Publicado: 23 may 2016 15:59 GMT | Última actualización: 23 may 2016 16:21 GMT
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La interrogante tiene un fundamento sólido pues los hechos son categóricos: existe una escalada agresiva y destructiva en todos los frentes realizado por la Corporatocracia a través de un equipo  consolidado para intervenir de modo fuertemente articulado en la Nueva Re-conquista de América. Ha comenzado por Honduras, Paraguay, Argentina, Brasil, y se desea continuar con el resto de países donde el progresismo agite banderas de equidad.

La primera conquista fue la española, plena de masacres y usurpación. La segunda fue la estadounidense a través de la coacción armada y económica. Sin embargo, debido al crecimiento de gobiernos autónomos desde las últimas décadas siglo pasado, que crearon la esperanza en pueblos libres de la injerencia del terror, se ha iniciado la Re-conquista española a través de los mercados y la banca, apoyada por la decidida intervención guerrera del gobierno estadounidense para apoderarse de todo el continente. Diversos países muestran los conflictos entre las élites contra  fuerzas sociales y mandatarios que se acercan a autonomías nacionales.

Los hechos no son aislados aunque puedan parecer así. En Colombia, por ejemplo, existen dos campañas ligadas profundamente y que no aparecen como tales. Recientemente se han emitido programas “informativos” según los cuales China está invadiendo de productos al país y afectando a los comerciantes locales, hasta el punto de entrevistar al presidente de los comerciantes asiáticos para establecer los alcances de dicho proceso, con el claro objetivo de detener el comercio asiático. Por otra parte, la oposición ultraconservadora al proceso de paz indica que la necesidad de conflictos internos es conveniente para mantener la incertidumbre social, lo que aporta significativamente a las transnacionales de la guerra: clima de conflicto y detención de los caminos pacíficos van unidos.

Cabe mencionar que las casualidades no son tales, así como la similar y peligrosa enfermedad de Fidel Castro, Hugo Chávez, Lula da Silva, Dilma Rousseff, Cristina Fernández, Fernando Lugo, todos personajes ligados a visiones esperanzadoras. De igual modo, el ataque a Rousseff se vincula a la posibilidad cierta que Lula sea el próximo mandatario de Brasil. Así mismo, las marchas violentas de la oposición en Venezuela comprobándose la relación directa entre la MUD, organización opositora, y los eventos desestabilizadores, fija el marco injerencista internacional incentivado por Mariano Rajoy como símbolo de una España colonialista.

El frente militar- informativo ha sido descomunal puesto que se ha empleado una inversión billonaria en entregar desinformación total, insistiendo en debilitar gobiernos populares, aunado a una publicidad desconcertante con el fin de incitar a la rebelión, similar a los terroristas “moderados” en Siria. Así, el impacto de los Medios se ha conjugado con dos aspectos: el represivo y el financiero.

Por una parte, el asesinato o amenazas a periodistas críticos en Honduras, Guatemala, México, Colombia, son permanentes. Se estima que la proporción de agravantes entre el año 2015-2016 se ha incrementado sustantivamente y la justicia se ha declarado incompetente para resolver dichos casos dejando en la impunidad esta grave situación. Por este mecanismo, las posiciones divergentes son silenciadas con la muerte o el temor y la población calla por riesgo a su vida. Cabe mencionar con indiscutible preocupación que los Medios neoliberales copan más del 95% de la información en América, con una transmisión continua visual, auditiva y escrita en oposición a toda propuesta que sea descrita como progresista, tildándola de revolucionaria, comunista, socialista, ineficaz o corrupta. Este instrumento se utiliza con la máxima fuerza para destruir el pensamiento crítico, analítico y creador.

El mecanismo financiero es implacable pues se ha ordenado a las transnacionales ejercer su presión completa: en Venezuela, al igual que en Chile, el desabastecimiento fue ordenado a las grandes empresas y en menos de un año se colapsó el país. Sorprendentemente después del golpe aparecieron todos los productos en menos de dos días exactos, lo que demostró el acaparamiento de la oposición que era la que poseía el capital para ello. La negación de préstamos, el boicot a la producción nacional, el alza del dólar de modo injustificado pues el país base es el más endeudado del mundo y su moneda debería valer menos que el peso, más la manipulación indebida del precio al petróleo (afectando “extrañamente” a países soberanos), demuestra lo implacable de la visión neoliberal.

Coadyuva en dicha guerra un campo definitivo que sentencia el proceso desestabilizador: lo jurídico o legal. Por este mecanismo, se ha “destituido” a presidentes progresistas como Lugo, Zelaya, Rousseff, lo que confirma que es una táctica empleada para tal fin y no una mera situación de transparencia. Todos los presidentes posteriores a éstos han incentivado la dependencia económica de sus países y, en Argentina, aunque hubo un proceso eleccionario, el regreso al castigo y el endeudamiento artificial ya comenzó. Cabe mencionar que en Estados Unidos la guerra a los sectores inconformes y progresistas ha sido declarada desde hace varios años y ahora ha recrudecido ostensiblemente. La represión a la comunidad afro o latina e inmigrantes es cada vez mayor, a través del asesinato inerme y sin contar con el apoyo directo a Daesh (Estado Islámico) y Al Nusra, lo que ha sido denunciado nuevamente y corroborado con la visita del general Joseph Votel,  el que viajó en secreto para reunirse con combatientes kurdos y líderes de grupos armados antigubernamentales en Siria, confirmando la “solidaridad” que brinda el Pentágono a las bandas irregulares.

 Los golpes militares de los años 60 y 70, propiciados y financiados por Estados Unidos, han sido sustituidos por los nuevos métodos golpistas; hoy sin utilizar dichos procedimientos absolutamente incruentos se emplean los métodos “blandos”: comenzó en Honduras, le siguió Paraguay, hoy toca a Brasil, próximo está Venezuela, y quizá más adelante Bolivia o cualquier otro país que no sea del agrado de las élites del poder. Sin embargo, los frecuentes llamados por líderes de derecha  extrema a los militares en Brasil, Colombia o Venezuela, son un síntoma evidente del intento por subvertir el proceso legalmente constituido. Estos golpes, que no son blandos pues su dureza es extrema, nos hacen recordar que no es suficiente con tomar o llegar al poder para gobernar cómodamente: si el partido ganador no cuenta con una base social firme y sólida, y con un aparato fáctico que lo sustente y defienda, fácilmente será arrojado de la administración estadal. Brasil es el último ejemplo.

Obviamente los golpes de estado siempre son armados aunque no con los instrumentos convencionales como se conoce (expresados en balas, bombas, o simplemente trituran, cortan, descabezan, hieren, maltratan), pues existen otros utensilios incluso más fuertes como son el uso de los Medios, el desabastecimiento, la intervención financiera, el empleo del aparato jurídico, la aplicación de la norma religiosa extrema o básicamente el rumor perverso que desestabiliza a una sociedad. Coadyuvan de este modo al objetivo de la Corporatocracia cual es imponer políticas antinacionalistas con el fin de privatizar las naciones progresistas entregando todo lo comerciable, es decir , todo (incluso los seres humanos), a la empresa transnacional con el fin de multiplicar los ingresos de dichas compañías.

Ante esta grave situación, claramente existen alternativas, entre las cuales se podría mencionar las siguientes: la democratización de los medios de comunicación es una necesidad imperiosa pues el oligopolio o concentración en las manos de muy pocas familias se transforma en un elemento desestabilizador del proceso democrático. Igualmente se requiere hoy día líderes sin ambigüedad, fuente de la debilidad de algunos mandatarios como Rouseff quien ha responsabilizado sólo a fuerzas internas de su caída desconociendo el mundo y sus relaciones, en un intento desesperado por acercarse a Estados Unidos o temiendo que pueda actuar con más dureza, contrastando con un principio básico cual es demostrar el poder con mayor autoridad apoyado en las bases populares y sin temor.

Cabe mencionar que la debilidad de la democracia verdadera es que sus dirigentes confían en la bondad del opositor lo que es una seria falta metodológica ya que se entiende como proyecto exento de fortaleza, sin comprender que una sociedad se erosiona mediante la corrupción misma que es un factor esencial del neoliberalismo. Así se explicita la creación de nexos o empresas que corrompe a los funcionarios, posteriormente los denuncia o convierte a sus propósitos, o si es preciso los neutraliza. De allí la obligatoriedad de establecer una política de transparencia coherente que satisfaga los estándares éticos dando una prueba de idoneidad de sus dirigentes.

Una gran debilidad de los partidos progresistas en América Latina es su tendencia a aburguesarse lo que les hace creer que obtenido el gobierno ya está dado todo, y no comprenden que es preciso asegurar el poder con el apoyo de las masas logrado con un proyecto social de equidad, sin descuidar las amenazas reales de las grandes empresas que representan a las élites y el uso masivo de los Medios para concientizar en la usurpación debida o “cambio”. Cabe anunciar al mundo lo que ocurrirá con gobiernos neoliberales, siendo un modelo Argentina con Macri: más de 140.000 despidos y el aumento de la población pobre en un 5,5% en menos de seis meses, según CEPA (Centro de Economía Política de Argentina), el que se complementa con los datos proporcionados por la Federación Argentina de Trabajadores de Prensa (Fatpren), quien denunció que unos 2500 periodistas del gremio fueron despedidos, así como el gobierno interino de Michel Temer canceló de inmediato la construcción de 11.250 viviendas populares del programa “Mi casa, Mi Vida”. Ese seguramente es el destino de los golpes de estado con armas socio jurídicas destructivas.

Para finalizar, esta Nueva Reconquista de la Corporatocracia es mundial pues afecta las más diversas regiones y está evidenciada en Africa, continente que parece inexistente. Que nadie crea en las informaciones según las cuales Al Qaeda y Daesh se enfrentarán en una gran guerra por Siria eliminándose entre ellas, lo que se ha dado como tesis cierta: su confrontación definitiva sólo ocurriría si tienen todo el poder y hoy día lo están perdiendo contra las fuerzas liberadoras de Irak y Siria, apoyadas por combatientes populares y países comprometidos con la paz justa en el Medio Oriente. Manifestar que en  Washington se escuchan propuestas de ayudar a Al Nusra, ya que probablemente lucharía contra el EI, son las formas encubiertas de apoyar al terrorismo mundial y nadie debe caer en dicha trampa. Por tanto, la Nueva Conquista está extendida en el planeta así como, por ejemplo, en el mar territorial chino donde se intenta crear una nueva zona de tensión, ampliada con el cerco a Rusia y la demora perversa en liberar a Irán de sus ataduras financieras , comerciales y políticas.

Actualmente existe un escenario muy agudo, no silencioso aunque reservado, con el fin de eliminar en el continente americano todo rasgo de democracia real para hacer de la Conquista española una simple historia de despojo pues ahora lo que se pretende es controlar cientos de millones de seres y convertirlos en los robots del mundo conculcado. Es la hora de la reflexión y la acción decidida de los sectores valientes que aún existen en este espacio latino de prodigio natural y social.

Franklin Martins: Esse golpe foi organizado pela mídia

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Do Limpinho&Cheiroso

Franklin_Martins16

Via Agenda Bafafa em 23/5/2016

O jornalista Franklin Martins começou o seu engajamento na política aos 20 anos como estudante de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (à época Universidade do Brasil), ao ser eleito presidente do DCE da Universidade e, logo depois, vice-presidente da União Metropolitana dos Estudantes. Com a ditadura, aderiu à luta armada como militante do grupo comunista MR-8 e da Dissidência Universitária da Guanabara. Ganhou notoriedade ao ser um dos articuladores do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrik, em 1969. A ação possibilitou a libertação de 15 guerrilheiros presos. Exilado em Cuba, Chile e França, voltou com a anistia 10 anos depois. Atuou como repórter em vários veículos até chegar à TV Globo como comentarista em 1996. Em 2002, foi indicado ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal durante o mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva onde ficou até dezembro de 2010.

Em palestra no Sindicato dos Engenheiros do Rio, Senge/RJ, Franklin Martins avaliou o momento político nacional, em especial o afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Para ele, a ascensão de Temer é fruto de um golpe de estado. “Esse golpe foi organizado pela mídia, é um bombardeio de informação enviesada e partidarizada”, garante. Apesar de reconhecer que o ato foi uma grande derrota para o projeto político do PT e de Lula, Franklin acredita que o povo saberá encontrar os mecanismos para fazer prevalecer os seus interesses. “Temer vai tentar impor um programa de retrocesso que o povo brasileiro não aceitará”. E completa: “O futuro é nosso”.

Como está vendo a deposição de Dilma?
Esse processo de golpe de Estado nos impactou fortemente. Estou vivendo o meu segundo golpe. No primeiro, eu tinha 15 anos. Esse agora eu tenho quase 70. A primeira reação, repetindo o Chico Buarque, é golpe de novo não. Estou convencido que não é mais o mesmo tipo de golpe de Estado. O Brasil é um país muito mais maduro, consciente, organizado e disposto a lutar pelos seus direitos. Este golpe não vai ter a longevidade da ditadura. O primeiro ponto é a democracia. Queremos resolver através do voto. É assim que formaremos maiorias e minorias políticas e organizaremos as nossas instituições. Isso é uma conquista da luta contra a ditadura, da Constituinte e do processo político posterior. É isso que os golpistas estão atacando. Vamos ser claros: eles não estão só atacando os 54 milhões de eleitores de Dilma, estão atacando os 110 milhões de eleitores. Nós estamos vivendo um retrocesso, atingindo aquilo que está na base da agenda política que é o voto. Esse golpe foi organizado pela mídia. É um bombardeio de informação enviesada e partidarizada.

O que acha da reforma política e da regulação da mídia?
O Brasil é grande na sua diversidade e precisa reduzir as desigualdades regionais. Os avanços nos últimos anos foram excepcionais, mas algumas coisas ficaram pendentes, entre elas a reforma política e a regulação da comunicação. A votação proporcional não dá certo, porque estimula o dono do mandato ao invés do partido que o elegeu. Por isso, o Congresso é cada vez mais dominado pelo dinheiro. Virou um grande balcão. Não existe chance de melhorar nas próximas eleições desta forma. A reforma política não acontece porque quem vota ela é este Congresso elitista. A regulação da mídia é urgente. As rádios e televisões são concessões. Todas os setores da economia onde vigora o sistema de concessões têm obrigações. Isso vale para a energia, transporte público urbano, aviação. Todos têm regulação que precisa ser cumprida, caso contrário perdem a concessão. Na radiodifusão não. O nosso código geral de telecomunicações é de 1962. Ele não responde pelos problemas atuais. Naquela época tinham dois milhões de aparelhos de TV, hoje todas as casas têm. Sem regulação é a lei da selva. Sempre ganha o forte. É indispensável democratizar. Não é censura. Os governos Lula e Dilma ficaram devendo nessa área. É muito difícil aprovar isso no Congresso porque os deputados têm medo de ser bombardeados pela imprensa. Os blogs e portais estão gerando informação a partir da internet. Os grupos midiáticos não têm o monopólio total, só na radiodifusão. Mas, é pouco.

A inclusão social está ameaçada?
Só é possível ter democracia, moeda estável, crescimento, com inclusão social. Senão, nada disso é possível. Fragiliza. Temos que defender a agenda que estamos construindo, defender a democracia.

E a Soberania Nacional?
Nós não precisamos que os nossos ministros tirem os sapatos nos aeroportos dos Estados Unidos. Não precisamos consultar a Casa Branca para instituir um novo modelo de exploração do Pré Sal. Não precisamos ter o ok dos EUA para construir uma política de relacionamento, de integração regional, de solidariedade com a África. Ou seja: o Brasil não é o quintal dos EUA. Tem ainda uma questão geopolítica: o Brasil descobriu as maiores jazidas de óleo e gás dos últimos 30 anos. Eles estão nos atacando da forma que podem, não enviaram marines para cá, mas estão de olho na exploração.

O que acha de nossas elites?
As elites são dinheiristas predadores, não têm projeto de país. O povo para eles é um acidente geográfico. Elas sempre governaram para um terço das pessoas. Ao contrário do governo Lula que provou que é possível governar para todos. O povo não é um estorvo, uma carga, é energia, possibilidade de crescimento. Ele precisa ter condições de se desenvolver. As elites perderam quatro eleições seguidas e querem aplicar seu projeto com Temer e se impuseram ao país. Nós sofremos uma derrota muito forte. Estamos com desafios imensos pela frente. Esse ministério do Temer é cheio de filhos de políticos, é a cara da sessão da Câmara que derrubou Dilma. O seu governo é uma improvisação absoluta, não sabe o que fazer com o país.

O que fazer agora?
Vamos fazer política, construir maiorias, tentar reduzir o isolamento. É preciso oxigenar, gerar pensamentos com o que vem de novo. Nos últimos meses, a sociedade despertou. Hoje ela quer mais, a garotada tem pautas diferentes. Existe um Brasil novo pulsando, acho que vai reforçar a luta. Eu olho para o governo Temer e para a TV Globo e digo: nós perdemos, não vamos subestimar, a democracia foi seriamente atingida. Mas, sinceramente, o futuro é nosso.

Esse golpe era irreversível?
O futuro ao Deus pertence. Esse governo é fruto de um golpe. Ele rasgou o instituto do voto sem que Dilma tenha cometido nenhum crime de responsabilidade. Ela foi tirada do poder, posto um vice que vai aplicar um programa que foi derrotado nas eleições. É gravíssimo, mas acredito que o povo brasileiro vai resistir, vai defender a democracia. Esse golpe não prevalecerá por muito tempo.

Caminhamos para uma crise maior?
Esse governo vai sofrer uma instabilidade muito grande porque não é fruto do voto. É fruto de um golpe articulado pelas grandes corporações de mídia, pelos partidos de oposição, pelo Congresso, pelo Ministério Público, parte do judiciário que omitiu-se. O que vai sair do governo Temer? Não vai ter nenhum céu de brigadeiro não. Acho que vai tentar impor um programa de retrocesso que o povo brasileiro não aceitará.

Qual é recado para a sociedade?
O povo saberá encontrar os mecanismos para fazer prevalecer os seus interesses.

E o Supremo continuará omisso?
Nós temos Supremo?

E o papel da imprensa independente?
A imprensa independente sempre teve, nos momentos de grandes dificuldades, um papel muito importante, muito relevante. Ela tem que ser cada vez mais competente, profissional e mais leve que a mídia tradicional.

Quais são os pontos fundamentais para uma agenda nacional no país?
Depois da redemocratização, a partir da nova Constituição e da luta democrática, o país construiu uma agenda nacional de seis pontos. Primeiro ponto, a democracia, o voto. Segundo, a necessidade de uma moeda estável, terceiro é crescimento econômico, não basta ter moeda. O país tem que crescer para abrir oportunidades. Quarto é inclusão social, o Brasil é um país profundamente injusto do ponto de vista social. O quinto ponto é a redução das desigualdades regionais. Não pode concentrar todo o crescimento em São Paulo ou no Rio. Ele tem que ser distribuído para todo o país. Isso é até bom para paulistas e fluminenses, pois impede o inchaço das grandes cidades. Em sexto, a construção de uma política de soberania nacional. O Brasil não é o quintal dos EUA. Queremos boas relações com eles, mas não com o caráter de subordinação. Devemos construir relações fortes com a América Latina, a África, ter relações com outras grandes nações no mundo que não sejam os Estados Unidos. O Brasil tem de defender os seus interesses e seus valores. Esta agenda de seis pontos está ameaçada pelo golpe que levou Temer ao poder.

As utopias morreram?
Por que elas morreram? Continuam existindo.