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domingo, 22 de setembro de 2013

Pré-sal: como e porque explorar já


Em  22/09/2013

* Arrisco-me a dar pitaco no assunto da hora: se o Brasil deve manter ou cancelar a licitação - modalidade leilão - do campo de Libra, marcada para o próximo dia 21. 

Ao tratar do tema, faço aqui um mosaico com artigos e informações para quem se interessa por entender minimamente a questão. Há prós e contras - sobre a polêmica travada nas redes e blogs. 

De início, é preciso compreender que os contratos de concessão realizados pelo Governo Dilma na área de infraestrutura não são privatizações, pois a propriedade continua estatal (rodovias, portos, ferrovias, aeroportos), o investimento e a exploração de taxas e pedágios é que serão privados, com regulação pública. O próprio Lenin defendeu a importância das concessões públicas para atrair capital privado nos idos da década de 1920, quando, através da NEP (Nova Política Econômica) se ergueram as bases econômicas da URSS. Nesse ponto, já se disse que quem confunde concessão com privatização está confundindo aluguel com venda de uma casa, por exemplo. 

Sobre a questão dos rumos para que o Brasil possa explorar de forma racional e com sustentabilidade econômica e ambiental a imensa riqueza petrolífera do pré-sal, vamos encontrar referência no documento Teses para o debate do 13º Congresso do PCdoB, nos pontos 36 e seguintes.

 No documento, aprovado pelo Comitê Central em julho deste ano, a sinalização é clara: “E houve a descoberta de enormes reservatórios petrolíferos do pré-sal, ocasião em que o governo agiu com rapidez para alterar o marco regulatório na região descoberta, em defesa do interesse nacional e prevenindo-se dos riscos de descontrole econômico.”

Entre os comunistas dos PCdoB, a conclusão aprovada em julho, vai no sentido de que o sistema de partilha em substituição do contrato de concessão anterior foi um avanço considerável e deve ser posto em prática, como instrumento fundamental para abrir um novo ciclo de desenvolvimento nacional.

Em primeiro, por que qualquer que seja o consórcio vencedor do leilão de Libra em 21 de outubro o petróleo continuará a pertencer ao Estado Brasileiro.

Em segundo, por que o edital prevê a participação obrigatória da Petrobras com 30% da exploração da área licitada.

Há ainda a cláusula de percentuais progressivos de nacionalização dos equipamentos utilizados na perfuração dos poços e extração do petróleo.

 E fundamental: o ritmo de produção atenderá aos mecanismos de política econômica, social (educação, saúde, distribuição de renda) e industrial do Brasil, ou seja, à decisão do governo brasileiro, pois a propriedade da jazida continuará a ser do Estado.

Para isso foi criado o Fundo Social do Pré-sal e aprovada a destinação dos royalties para a Educação e Saúde. E ainda depende de decisão do STF a análise sobre a constitucionalidade da recente lei aprovada pelo Congresso Nacional, ampliando a distribuição de royalties para os Estados não-produtores de petróleo, medida acertada para que o Brasil avance também na superação das desigualdades regionais. 

É certo que acabou-se o tempo em que apenas o interesse privado e as condições de mercado ditavam o volume da produção, como era no superado contrato de concessão.

Após a revelação da inaceitável ação de violação da soberania brasileira pela espionagem dos EUA, o tranco do governo Dilma resultou no cancelamento da visita de Estado que faria a Washington em novembro.

E as gigantes do petróleo dos EUA (ExxonMobil, Chevron) e as britânicas BP e BG já anunciaram a não participação no leilão de Libra.

Entre as 11 petrolíferas interessadas, há estatais da China e Índia, e já se veiculou na imprensa que a recente viagem da presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, à China teria como motivação o estabelecimento de parcerias estratégicas com estatais chinesas.

Se um consórcio com essa composição for vencedor, com certeza será proveitoso para o Brasil e para a China.

E péssimo para os EUA e suas empresas. Como reagirão a essa reviravolta na América Latina, que consideram como “o seu quintal”? Por certo não entregarão "na boa" a rapadura , é da índole do imperialismo.

Se não podem aplicar aqui a tática de “desmonte de Estados” como fizeram e estão a fazer no Iraque, Afeganistão, Sudão, Líbia, Síria, podem incrementar o apoio e incentivo para que as forças neoliberais voltem ao poder no Brasil e refaçam, em condições “amigáveis” para os gringos, a regulamentação da exploração do pré-sal. 

Esses interesses estrangeiros já tem para isso uma mídia empresarial aliada por aqui, e as comunicações do Embaixador dos EUA - sobre a conversa com José Serra, candidato presidencial do PSDB em 2010 - comprovam que é mais que plausível o receio de que políticas entreguistas possam voltar a ser aplicadas (nem que seja daqui a 8, 40 ou 50 anos...).

Recomendo aos interessados o livro PETRÓLEO NO BRASIL - A situação, o Modelo e a Política Atual (2008, Synergia), do ex-diretor geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo) Haroldo Lima. 
     
Confira também os documento do PCdoB que abriram os debates do 13o Congresso, contextualizando o tema pré-sal nos marcos da busca de um novo projeto nacional de desenvolvimento.

* Textos de Luiz Carlos Orro
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TESES PARA O 13o CONGRESSO: PCdoB

              “A PROLONGADA LUTA POR  MUDANÇAS NA MACROECONOMIA


36 - A luta pela superação do neoliberalismo no Brasil ganhou mais velocidade com o colapso das políticas macroeconômicas nele inspiradas, ocasionado pela grande crise capitalista mundial em 2007-2008, que pôs na defensiva as forças internas que  defendiam o paradigma neoliberal.

Estavam frescas na memória as crises financeiras do final da década de 1990 e suas sérias implicações para o país. O governo FHC assinou acordos com o FMI, que comprometeram a soberania brasileira em matéria de políticas econômicas, impondo imensos sacrifícios ao povo e gerando uma situação de verdadeira barbárie social – semelhante à que hoje vivem vários países da Europa.

37 - Integrando a base de apoio dos governos Lula e Dilma e lutando pelo seu sucesso, o PCdoB persistentemente exerceu sua crítica convencido de que as políticas macroeconômicas herdadas do governo tucano estavam voltadas para os interesses do capital rentista e parasitário, dificultando a retomada do desenvolvimento nacional. Nestes últimos dez anos, as tendências de mudança na política macroeconômica se deram em três fases:

38 - Uma primeira fase caracterizou-se pela resistência no plano da economia, num contexto de dualidade política no primeiro governo Lula, comprometido com os acordos expressos na Carta ao povo brasileiro e, ao mesmo tempo, com o programa popular vitorioso nas eleições de 2002. A expansão da economia mundial a partir de 2003 – apesar da desaceleração econômica desse ano no país – e a elevada valorização das commodities deram condições para que o governo conseguisse vitórias no combate à pobreza, mesmo com os grandes lucros auferidos pelo capital, especialmente o rentista.

39 - Na segunda fase, correspondente ao segundo mandato do presidente Lula, ganhou mais estabilidade um núcleo central de governo, e a política econômica híbrida aproveitou oportunidades surgidas com a crise do sistema capitalista em 2007-2008.

40 - Essas condições levaram o governo Lula a tomar iniciativas em prol da construção de uma alternativa de desenvolvimento robusto, duradouro e em benefício da Nação. Suas marcas centrais foram o lançamento, em 2007, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), agora conhecido como PAC 1; o fortalecimento do sistema financeiro público; e as políticas econômicas contracíclicas. Com isso, alargaram-se significantemente a oferta de crédito e a capacidade de consumo das massas. E o BNDES retomou seu papel de agente promotor do desenvolvimento: seus empréstimos anuais passaram de R$ 37,4 bilhões em 2002, último ano do governo de FHC, para R$ 168,4 bilhões, em 2010.

41 - Com isto, os investimentos públicos evoluíram de 2,6% do PIB, em 2003, para 4,7%  do PIB, em 2010. O PAC conseguiu também alguns êxitos na reconstrução da infraestrutura energética e logística. E houve a descoberta de enormes reservatórios petrolíferos do pré-sal, ocasião em que o governo agiu com rapidez para alterar o marco regulatório na região descoberta, em defesa do interesse nacional e prevenindo-se dos riscos de descontrole econômico. Além disto, a dívida pública reduziu-se significativamente e as reservas internacionais do país cresceram.

Nos oito anos de governo Lula, a média de crescimento do PIB foi praticamente o dobro daquela do período de FHC. Criaram-se, assim, as condições para a aplicação de um  genuíno projeto nacional de desenvolvimento.

42 - Na terceira fase, que se iniciou com o governo Dilma Rousseff, novos fatores apresentaram-se, entre os quais: a persistência da crise internacional do sistema capitalista, as pequenas taxas de crescimento do PIB, a taxa média de investimentos relativamente baixa e os retrocessos na indústria de transformação nacional.

43 - Para enfrentar esse quadro, a presidenta busca reorientar a política macroeconômica de forma mais consequente e tomar medidas visando a elevar o nível dos investimentos públicos e privados. Para tanto, iniciou um processo de redução da taxa básica de juros – o que só foi possível com a corajosa modificação do cálculo dos rendimentos da caderneta de poupança –, adotou medidas para minorar a valorização do câmbio, e até mesmo flexibilizou, de certa forma, a política de superávits primários. O governo impôs ao setor financeiro privado uma ampla concorrência no mercado de crédito a partir de uma queda nas taxas de juros praticadas pelos bancos públicos. Tratou-se de um nível de enfrentamento jamais imaginado nos últimos anos.


44 - Em relação aos investimentos públicos, foi implementado o programa Minha Casa, Minha Vida e revitalizado o PAC (agora PAC 2). E, visando a atrair investimentos privados em patamar mais elevado, foi lançado um abrangente programa de concessões em infraestrutura abarcando portos, rodovias, ferrovias, aeroportos, trens de alta velocidade, energia e petróleo, num montante de US$ 470 bilhões."


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A polêmica na rede sobre o leilão de Libra

publicado em 18 de setembro de 2013 às 11:53

blog VIOMUNDO




A nota de Dilma e porque não adiar o “leilão” de Libra

9 de setembro de 2013 | 18:57

A Presidente Dilma Rousseff divulgou uma nota onde afirma que ficou “evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem (dos Estados Unidos sobre a Petrobras) não é a segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e estratégicos” e diz que o Governo brasileiro tomará “todas as medidas para proteger o país, o governo e suas empresas”.

Reproduzo a nota ao final do post, mas prefiro atrever-me a traduzir o que a Presidente quis deixar claro: o campo de Libra ficará sob controle majoritário da Petrobras e as empresas dos países que participam do “poll” de espionagem liderado pela National Security Agency dos EUA não farão parte do consórcio ao qual será entregue a exploração da maior das reservas de nosso pré-sal.

Mas como eu posso afirmar isso, se haverá um leilão, um processo licitatório cujo resultado, em tese, não se pode prever?

Por uma simples razão, este leilão tem caracterìsticas totalmente diferentes dos leilões que nos acostumamos a ver, nascidos na era FHC.

Não é o lance do “bônus de exploração” que o definirá.

Este é fixo: R$ 15 bilhões.

É uma espécie de “habilitação” para participar da disputa.

O que decidirá é a parcela do petróleo que o vencedor oferecerá ao Estado brasileiro.

E a Petrobras está pronta para “entrar rachando” nisso, com uma oferta que nenhuma multi poderá fazer, até porque não vão se interessar por algo que, por lei, não poderá controlar fisicamente e tentar, com isso, “compensar” o “sobrepreço” representado por uma parcela robustíssima do óleo entregue ao Governo.

Quando a Presidenta diz que o Governo tomará todas as providências para proteger “suas empresas”, o que quer dizer é que o Governo brasileiro tratará a Petrobras, neste leilão, como trataria de si mesmo.

Há espaços legais para isso, que vão desde a lei da partilha do petróleo estabelecer “um mínimo” de 30% para a Petrobras – e mínimo já diz tudo – até operações “casadas” entre o Tesouro – ou o BNDES – com nossa petroleira para que ela disponha de folga financeira para assumir os ônus iniciais da exploração, que levará vários anos até fazer a área entrar em produção economicamente compensadora.

E tudo sob o constrangedor silêncio dos urubus, que não terão coragem de dar mais que pios, diante da afronta à Nação que foi este episódio de espionagem comercial do governo americano, funcionando como agente de suas multinacionais.

O adiamento da outorga da exploração do campo de Libra, jóia da coroa do pré-sal, se podia antes ter a justificativa de esperar que a Petrobras conseguisse equacionar os gargalos provocados pelo imenso desafio de desenvolver imensas áreas já sob sua responsabilidade, agora passou a ser interesse apenas de grupos que preferem ver o caso “esfriar” para que, depois, as empresas beneficiadas pelo furto de informações possam voltar a se apresentar de “cara limpa” e “competitividade” renovada.

Estão, neste momento, com o estigma do crime estampada em suas testas. Os seus “boards”, neste momento, discutem se não vão se apresentar ao leilão, e deixar com isso patente que foram pegos com a boca na botija ou se participam para “cumprir tabela”.
Seus simpatizantes aqui, como o nefasto Adriano Pires, sempre escalado pela Globo para defender as multis no petróleo brasileiro, já reclamava na Globonews, hoje, da “xenofobia” provocada por “este erro” do governo americano. Vejam só: espionar é “erro”, defender o Brasil da espionagem é “xenofobia”.

O fato é que ele e todos os entreguistas estão gaguejando.

Quando a gente está apanhando, ensinava o célebre e folclórico tecnico Neném Prancha, “arrecua os arfi para evitar a catastre”.

Mas quando o jogo vira, talvez ele dissesse: “avança o centrefor pra compretá o massacre”.

PS. Para os não-velhinhos feito eu, “arfi” eram os alf, os laterais. “Centrefor”, ou center forward, era o centroavante.

A nota da Presidência

Mais uma vez, vieram a público informações de que estamos sendo alvo de mais uma tentativa de violação de nossas comunicações e de nossos dados pela Agência Nacional de Segurança dos EUA. Inicialmente, as denúncias disseram respeito ao governo, às embaixadas e aos cidadãos – inclusive a essa Presidência. Agora, o alvo das tentativas, segundo as denúncias, é a Petrobras, maior empresa brasileira. Sem dúvida, a Petrobras não representa ameaça à segurança de qualquer país.

Representa, sim, um dos maiores ativos de petróleo do mundo e um patrimônio do povo brasileiro.
Assim, se confirmados os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e estratégicos.

Por isso, o governo brasileiro está empenhado em obter esclarecimentos do governo norte-americano sobre todas as violações eventualmente praticadas, bem como em exigir medidas concretas que afastem em definitivo a possibilidade de espionagem ofensiva aos direitos humanos, a nossa soberania e aos nossos interesses econômicos.

Tais tentativas de violação e espionagem de dados e informações são incompatíveis com a convivência democrática entre países amigos, sendo manifestamente ilegítimas. De nossa parte, tomaremos todas as medidas para proteger o país, o governo e suas empresas.

Dilma Rousseff


Presidenta da República Federativa do Brasil


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MUITO PELO CONTRÁRIO


Ildo Sauer: EUA querem destruir o preço do petróleo; Brasil ajuda!


publicado em 16 de setembro de 2013 às 21:06

“O governo trata Libra como se fosse uma padaria ou pizzaria.”


Professor titular da USP e um dos mais reconhecidos cientistas brasileiros na área de energia, Ildo Sauer foi diretor de gás e energia da Petrobras durante o primeiro governo Lula. Nessa entrevista, critica o leilão de Libra e propõe um modelo alternativo.

P: Como você avalia o modelo criado pelo Brasil para exploração e utilização dos recursos do pré-sal? O país vai utilizar bem essa riqueza?

R: Não. O modelo de concessões formulado pelo governo neoliberal de FHC, numa época em que ainda se justificava no discurso a possibilidade de um risco genérico exploratório para encontrar petróleo, não era o melhor. Naquele tempo, o modelo adequado seria a partilha da produção, com a Petrobras comandando.
Eu defendi transformar concessão em partilha. No momento em que se conclui com sucesso a definição de uma nova província de petróleo no pré-sal, nem o modelo de concessão nem o de partilha servem.
Quando já há uma confirmação de sucesso e com pouco investimento se pode descobrir o volume de petróleo disponível a ser produzido, o melhor modelo é o monopólio público de uma empresa puramente estatal ou o modelo de prestação de serviços em que uma empresa, preferencialmente uma estatal híbrida igual à Petrobras, é contratada para fazer o serviço de delimitação do volume de recursos. Depois se contrata essa empresa num regime de prestação de serviços, remunerando-a adequadamente por todos os custos.
Nós temos 50 bilhões de barris já confirmados, mas podemos chegar a 100, 200 ou 300 bilhões.
O governo não autorizou o custo pequeno, da ordem de US$6 bilhões a US$7 bilhões, para que a Petrobras, fazendo cerca de cem poços na área do pré-sal de Santa Catarina ao Espírito Santo, definisse o volume total de petróleo. Essa informação é essencial para delinear um projeto estratégico para o país do que fazer com o petróleo.
O governo está promovendo o sucateamento das duas grandes riquezas do povo brasileiro: o petróleo e, mais importante, a Petrobras, uma construção histórico-social capaz de intervir sobre a natureza e dela arrancar um elemento essencial para a sociedade, a energia.

P: O que motiva o governo a fazer os leilões?

R: O governo precisa de dólares para contrabalançar a situação macroeconômica. O baixo índice de crescimento da economia brasileira, associado à potencial fuga de dólares, fazem com que o Brasil precise do fluxo de dólares para manter o equilíbrio das contas externas. Por isso, decidiu que vai antecipar o leilão de Libra.
A segunda motivação talvez seja ideológica, no sentido de subordinar os recursos naturais à lógica do interesse privado.
Não sei se há também interesses menores do ponto de vista da base de apoio econômico e político ao governo, dinheiro para campanha e para enriquecimento de figuras ligadas ao processo de poder, que está em xeque agora no Brasil depois que o povo foi às ruas.

P: Qual seria a melhor alternativa?

R: Havia uma alternativa mais inteligente para resolver o problema macroeconômico: contrata-se a Petrobras, que delimita o campo de Libra e produz. Ah, faltam US$ 50 ou 60 bilhões para desenvolver o campo. Faz parceira internacional negociada politicamente a partir do governo. Chama a China, eventualmente a Índia e outros parceiros, e investe, produz e controla o ritmo de produção.
Em contrapartida, a China recebe o petróleo a 80 ou 90% do preço internacional e antecipa o dinheiro do investimento, coloca no Brasil o dinheiro necessário para equilibrar as contas externas.
Libra vai produzir cerca de dois milhões de barris por dia, 700 milhões por ano. Se vender o petróleo a US$90 por barril e custar US$20 para produzir, sobram US$70 por barril.
São US$50 bilhões por ano que estão em jogo, ao longo de 20 anos de produção, supondo que as reservas sejam de 15 bilhões de barris, como esperado.
Com US$50 bilhões por ano você mantém as contas externas com afluxo de US$10 ou 15 bilhões em moeda, os outros US$35 ou 40 bilhões usa para investir em infraestrutura.
Criaria a Metrobras que seria a dona e operaria os metrôs de todas as cidades com mais de 500 mil habitantes no país. O Brasil poderia estabelecer uma parceria com a China que estabeleceria fábricas de trens no Brasil. Essa espécie de escambo não danificaria o equilíbrio da taxa de câmbio.
E nessa escala, os recebíveis do próprio sistema de transporte garantiriam o financiamento.
Eu estou dando um exemplo. O mesmo podia acontecer para trens de alta velocidade interestaduais, portos, vias navegáveis. Esse seria o modelo para o pré-sal em geral, não só Libra.
Acima de tudo o ritmo de produção tem que ser coordenado com a OPEP. Você não pode jogar dois bilhões de barris de petróleo no mundo sem coordenação. Do contrário, há um problema da renda petrolífera desaparecer. Está no horizonte uma ameaça geopolítica contra a OPEP e a Rússia comandada pelos EUA, que quer difundir a tecnologia do shale gas. Tem um petróleo e gás barato vindo daí.

P: Você acha que no médio e longo prazo o preço do petróleo vai cair em função do shale gas?

R: O shale não tem força para destruir a hegemonia do petróleo nas próximas cinco décadas, mesmo sabendo que a China tem recursos potenciais até superiores que os dos EUA.

P: Mas já há estudos dizendo que o shale pode tornar os EUA autossuficientes.

R: Sim, mas é efêmero. Por quanto tempo vai ser autossuficiente? Até a semana que vem, depois vai ter que voltar à mesa. Há uma ameaça no horizonte sobre o preço do petróleo como construído historicamente a partir de 2005 pela OPEP, a partir da hegemonia da OPEP no controle do recurso natural.
Em 1960, 84% do petróleo estava nas mãos das multinacionais, 14% nas mãos da URSS, e 2% nas empresas nacionais. Em 2010 era o contrário: 92% nas mãos dos governos, de empresas estatais ou híbridas. Com o controle político, eles conseguiram impor o preço.
O shale agora se apresenta como uma nova ameaça. O papel do Brasil nesse sentido é absolutamente destrutivo da geopolítica dos países que querem extrair renda do petróleo, que é o grupo em que o Brasil está entrando. O modelo que o governo está colocando em Libra e o modelo aprovado no Congresso ou são absolutamente ingênuos, ou destituídos de visão geopolítica estratégica, ou oportunistas, para satisfazer interesses menores no governo.

P: Se você partir do princípio de que a demanda dos EUA cairá, em função do shale, derrubando o preço do barril, não seria melhor para o Brasil explorar logo o pré-sal, e nesse sentido a entrada de empresas internacionais não é importante para acelerar o financiamento?

R: Não acho. O shale não tem dimensão para tomar o lugar do petróleo. Essa é uma possibilidade muito pequena. Depende do modelo de coordenação da indústria mundial do petróleo, via OPEP. Se a OPEP tiver capacidade de coordenação da produção do petróleo líquido, o shalenão vai tomar o lugar. A Arábia Saudita vive exportando dois ou três milhões de barris por dia.
Não precisam exportar 10 milhões. A Rússia também. Eles têm fôlego para enfrentar a guerra com o shale americano.
O problema é que um cachorro louco igual ao que o governo brasileiro está criando, leiloando um campo subordinado apenas à lógica microeconômica, sem levar em conta tudo isso, é um tiro no pé porque vai destruir o preço do petróleo no mundo.
Nem Libra nem os outros podem produzir rapidamente, porque tem que ter coordenação da produção para manter o preço do petróleo com renda elevada.
Os EUA apostam na estratégia de desestabilizar o Oriente Médio, invadindo Síria, Iraque, Líbia, desestabilizando o Irã e jogando shale no mundo. Eles estão tentando extirpar a renda acumulada pelos produtores de petróleo e deslocar esse excedente econômico para as esferas das empresas comandadas a partir da lógica imperialista americana e europeia, as empresas de produção de commodities, produtos, automóveis, informática e serviços.
O Brasil não compreendeu isso e está operando com uma lógica microeconômica, do contrato, do negócio, como se estivesse lidando com uma padaria. É como se a Petrobras fosse a grande filha do povo e o governo tivesse tornado essa filha anoréxica ao asfixiá-la com os preços dos derivados. A Petrobras está sem caixa. E agora o governo quer pegar a terra que pertence ao povo e a filha do povo, que é a Petrobras, e colocar numa espécie de casamento arranjado como faziam as antigas oligarquias. E quem se beneficia disso é o eventual vencedor do leilão. O governo trata Libra como se fosse uma padaria ou pizzaria.

P: As regras dos leilões dizem que a Petrobras é operadora de todos os poços. Essas regras são ruins para a Petrobras?

R: O governo está proletarizando a Petrobras. Asfixiou seu fluxo de caixa com a política de preços. Então a Petrobras não tem poder de barganha de entrar num leilão e valorizar a sua capacitação tecnológica. Tem dois valores em disputa: o petróleo e a capacitação da Petrobras.
E o governo está vendendo as duas por um preço aviltado pela política recente. Então a Petrobras ser operadora é quase ser escravizada em favor do capital financeiro, em vez de usar esse potencial para gerar valor para a sociedade brasileira.
Se ela for prestadora de serviço, recebendo de US$ 15 a 25 por barril, ela vai ganhar dinheiro, pagar bem seus quadros e melhorar a tecnologia. E o governo, vendendo petróleo para a China a 90% do valor, sobrariam entre 65 e 75 dólares por barril, que viram renda para o Tesouro investir em programas nacionais, fazer uma Metrobras, uma Portobras, reforma agrária, reforma urbana, investir em educação e saúde pública, e coordenar o fluxo de capitais para não tornar o Brasil um país rentista, manter o país gerando valor pelo trabalho.



*Mapa de oleodutos cruzando o Iraque: a verdadeira razão do ataque imperialista àquela nação. Note-se que a Síria está no caminho.  


* Para entender o "shale": 

The USA Government estimates that oil shales contain one trillion barrels of oil in the USA alone - four times Saudi Arabia's proven reserves.

shell.com

O governo norte-americano calcula que o xisto betuminoso contenha um trilhão de barris de petróleo somente nos EUA, quatro vezes mais que as reservas comprovadas da Arábia Saudita.












* Previsão de reservas de xisto betuminoso nos EUA. 
E está faltando o Alasca, onde já é explorado.


 - Da Wikipédia: 


Xisto betuminoso
Rocha sedimentar
Combustão do xisto betuminoso

Composição

PrimáriaQuerogênioQuartzoFeldspatoArgilaCarbonatoPirita
SecundáriaUrânioFerroVanádioNíquelMolibdênio

Xisto Betuminoso é uma rocha sedimentar de grão fino, rica em material orgânico, contendo querogênio (uma sólida mistura decompostos químicos orgânicos), a partir do qual hidrocarbonetoslíquidos chamados de óleo de xisto podem ser produzidos. O óleo de xisto é um substituto para o petróleo convencional; contudo, a extração do óleo de xisto do xisto betuminoso é mais caro (tanto se referindo a termos econômicos quanto aos impactos ambientais).1 2Depósitos de xisto betuminoso são frequentes em todo o mundo. As estimativas de depósitos globais vão de 2,8 a 3,3 trilhões de barris de óleo recuperável.2 3 4 5
Aquecendo-se o xisto betuminoso à uma temperatura suficientemente alta ocorre o processo químico da pirólise para se obter um vapor. Com o resfriamento do vapor, o óleo de xisto—um óleo não-convencional—é separado do gás de xisto (o termo gás de xisto pode se referir também ao gás que podem ocorrer naturalmente emfolhelhos). O xisto betuminoso pode ser também queimadodiretamente em fornalhas para se tornar um combustível de baixo poder de geração de energia, servindo também para a calefação urbana ou como matéria-prima na indústria química e na construção de materiais de processamento.2 6
O xisto betuminoso ganha uma atenção especial como uma potencial fonte abundante de óleo sempre que o preço do petróleo sobe.7 8 Só que ao mesmo tempo, a extração e o processamento do xisto betuminoso aumenta uma série de preocupações ambientais, tais como o uso da terra, o manejo do lixo, o uso da água, o tratamento da água, a emissão dos gases estufa e a poluição do ar.9 10 A Estônia e aChina tem grandes indústrias no ramo, sendo que BrasilAlemanha eRússia também fazem uso do xisto betuminoso.2


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Adílson Araújo: É hora de cancelar os leilões do petróleo



Portal Vermelho - 11/09/2013

O fim dos leilões do petróleo é uma reivindicação da Pauta Trabalhista unitária das centrais sindicais que ganha maior atualidade e relevância após a revelação de uma das últimas façanhas do governo do senhor Barack Obama: a espionagem à Petrobras, feita com o objetivo de acessar informações privilegiadas sobre o pré-sal.

Por Adilson Araújo*, no Portal CTB


A CTB sempre manteve uma posição firme contra a entrega do nosso petróleo à exploração do capital estrangeiro. Os expedientes ilegais usados por Washington para tirar vantagens no leilão do campo de Libra, na bacia de Santos, é mais um fato que prova os interesses de rapina do imperialismo na riqueza que o oceano nos reserva e que o governo brasileiro tem a obrigação de defender da ganância alienígena.

A denúncia de espionagem, feita com base nos documentos divulgados pelo jovem Edward Snowden, tem o mérito de expor à luz do dia os interesses espúrios que orientam a conduta das transnacionais e do imperialismo, que se vale de métodos criminosos, bem como usa e abusa da mentira e da demagogia para mascarar seus objetivos.

“A tática do governo americano desde o 11 de setembro [data do atentado às Torres Gêmeas, em 2001] é dizer que tudo é justificado pelo terrorismo, assustando o povo para que ele aceite essas medidas como necessárias. Mas a maior parte da espionagem que eles fazem não tem nada a ver com segurança nacional. É para obter vantagens injustas sobre outras nações em suas indústrias e comércio, bem como em acordos econômicos”, denunciou Snowden.

Neste caso, conforme salientou a presidenta Dilma, o pretexto do combate ao terrorismo não cola, pois transparecem claramente interesses “econômicos e estratégicos” do império. Na última segunda-feira, 9, a presidente da CPI da Espionagem, recentemente instalada no Senado, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), contestou em plenário a oportunidade do leilão do marcado para o próximo dia 21.

“Se há um mínimo de insegurança, não é possível manter o leilão onde as cartas já seriam conhecidas por alguns dos concorrentes”, afirmou a senadora. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) também classificou como de “extrema gravidade” a espionagem contra a petroleira brasileira. “Isso que está acontecendo é realmente dramático. Parece que a espionagem do governo dos Estados Unidos é usada como pirataria, inclusive para favorecer as empresas norte-americanas”, salientou, ao propor a suspensão do leilão. 

Até mesmo o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, anda criticando os termos do leilão. Libra tem potencial de reserva de óleo estimado entre 8 a 12 bilhões de barris, o que pode quase dobrar o potencial do Brasil na área. Naturalmente, “isto desperta a atenção e a cobiça de empresários de vários países”, conforme alertou o senador gaúcho.

A CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) reitera neste momento sua enérgica posição contra a entrega do nosso petróleo ao capital estrangeiro e apela ao governo pelo imediato cancelamento do leilão do campo de Libra. É também imprescindível cobrar uma apuração rigorosa do atentado contra a soberania nacional que vem sendo praticado de forma descarada e cínica pelo governo do senhor Barack Obama.

*Adílson Araújo é presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)


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ANP: Três grandes petrolíferas ficam de fora do leilão do pré-sal


Portal Vermelho


Três grandes empresas petrolíferas informaram que não vão participar do leilão do pré-sal do Campo de Libra, marcado para 21 de outubro: Exxon, British Petroleum (BP) e British Gas (BG). A disputa atraiu 11 empresas, que manifestaram interesse no processo, mas os nomes ainda não são conhecidos.


O anúncio da desistência foi feito por telefone para a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, que participou nesta quinta-feira (19) do Seminário Técnico-Ambiental para a 12ª Rodada de Licitações, em um hotel na zona oeste do Rio.

“Eu esperava 40 empresas. Mas existe um contexto mundial, situações muito específicas das empresas, que levaram a essa situação. Eu recebi telefonema de três empresas, que foram a Exxon, a BP e a British Gas, dizendo que não iam participar do leilão do pré-sal. Cada uma com uma particularidade”, relatou a diretora-geral da ANP.

A área a ser licitada tem cerca de 1,5 mil quilômetros quadrados. O volume de petróleo recuperável deverá oscilar entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris. 

Segundo o edital, os ganhadores da licitação deverão desenvolver as atividades de exploração de petróleo por quatro anos, prazo que poderá ser estendido, como prevê o contrato de partilha de produção. 

A Petrobras será a operadora única do pré-sal, pelo sistema de partilha, e a estatal terá direito a 30% do Campo de Libra, na Bacia de Santos.

Fonte: Agência Brasil



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Lobão: Governo está convencido do pleno sucesso do leilão 

Portal Vermelho - 20/09/2013



O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse nesta sexta-feira (20) que a ausência de grandes petroleiras no primeiro leilão do pré-sal, marcado para o dia 21 de outubro, não vai comprometer o sucesso da licitação. Ele convocou uma entrevista à imprensa para esclarecer que o governo está “plenamente convencido do sucesso do leilão”, que está assegurado pelo interesse demonstrado pelas empresas inscritas, entre elas algumas das maiores petroleiras do mundo, segundo ele.



 


O ministro Edison Lobão, disse que a ausência de grandes petroleiras no primeiro leilão do pré-sal, não vai comprometer o sucesso da licitação. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Nesta quinta-feira (19) a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou a lista com as 11 empresas que pagaram taxa de participação para a o primeiro leilão do pré-sal, referente ao Campo de Libra, na Bacia de Santos. A lista não inclui grandes empresas petrolíferas como Exxon, Chevron, British Petroleum (BP) e British Gas (BG).

Entre as empresas inscritas, três têm capital chinês: Cnooc International Limited (China), China National Petroleum Corporation (CNPC) e Repsol/Sinopec (Hispano-Chinesa). As demais são a Ecopetrol (Colômbia), Mitsui & CO (Japão), ONGC Videsh (Índia), Petrogal (Portugal), Petrobras, Petronas (Malásia), Shell (Anglo-Holandesa) e Total (Francesa). As empresas ainda terão que passar por um processo de habilitação para participar da licitação.

O ministro criticou o pessimismo de analistas em relação ao leilão, por causa da ausência de grandes empresas. Ele também disse que não se justifica a crítica ao fato de algumas das empresas que pretendem participar da licitação serem estatais. “Qual o mal nisso? A Petrobras é considerada estatal e é um orgulho brasileiro e uma grande petroleira nacional e com grande experiência em exploração em águas profundas”, disse.

Lobão esclareceu que, se houver apenas um consórcio apresentando propostas no dia 21 de outubro, o leilão não será comprometido. “Isso não mudaria nada, porque o bônus de assinatura e o mínimo de óleo que deverá ser destinado para a União teria que ser cumprido. Mas acreditamos que haverá mais de um consórcio, dois ou três”, disse o ministro.

A empresa vencedora será a que reverter o maior percentual do petróleo excedente à União. A Petrobras terá participação de no mínimo 30% no consórcio vencedor. A empresa que vencer o leilão terá que pagar um bônus de assinatura à União de R$ 15 bilhões.

Para o ministro, a ausência de empresas americanas na licitação do pré-sal não está relacionada às denúncias de espionagem envolvendo o governo dos Estados Unidos e a Petrobras. “As empresas que deixaram de participar tiveram as suas razões e eu não quero entrar na intimidade delas. As que estão inscritas são grandes empresas, são tranquilizadoras com a sua presença e elas darão sucesso a este que será um dos leilões mais importantes da história no mundo”, disse Lobão.

A área a ser licitada tem cerca de 1,5 mil quilômetros quadrados. O volume de petróleo recuperável deverá oscilar entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris.

Fonte: Agência Brasil


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Duas visões: O modelo de exploração do pré-sal é bom para o Brasil?

Atualizado em  20 de setembro, 2013 - 18:22 (Brasília) 21:22 

Plataforma de petróleo (Foto ABr)
Apenas 11 empresas se inscreveram para participar do leilão do campo de Libra
A ausência de várias gigantes do setor petrolífero no leilão do campo de Libra abriu um debate sobre o modelo adotado pelo Brasil em 2010 para explorar o pré-sal.
O leilão, previsto para 21 de outubro, será o primeiro realizado sob vigência do novo modelo, que substituiu o regime de concessões pelo regime de produção partilhada (ver quadro abaixo) - e muitas análises atribuíram seu esvaziamento a um suposto "excesso de regras e de participação estatal" nesse novo sistema.

Se as estimativas oficiais estiverem corretas, Libra é a maior reserva de petróleo já descoberta no Brasil e, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), poderia produzir em dez anos até um milhão de barris diários - metade de toda a atual produção brasileira.
As britânicas British Petroleum e British Gas e as americanas ExxonMobil e Chevron, porém, decidiram não se inscrever para participar do leilão.
Além disso, apenas 11 empresas ou consórcios se mostraram interessados em fazer ofertas pelo direito de explorar a área, enquanto a ANP esperava até 40 interessados.
Afinal, o novo modelo de exploração do pré-sal é bom para o Brasil? Até que ponto ele foi mesmo responsável pelo esvaziamento do leilão?
A BBC ouviu dois especialistas com pontos de vista opostos sobre esse tema:
Francisco Lopreato, professor do departamento de economia da Universidade de Campinas (Unicamp)
Para Lopreato, o novo regime permite que os recursos do pré-sal tenham um papel central no desenvolvimento do país no futuro.

Produção partilhada vs concessões

Uma diferença básica entre o regime de concessões e o de produção partilhada é que, no primeiro, as petrolíferas são donas do petróleo produzido, remunerando o Estado por meio de royalties e de um bônus de assinatura (pagamento feito ao assinar o contrato). Já no segundo, além de o Estado receber os royalties e bônus de assinatura, também é dono da produção.
No modelo adotado pelo Brasil em 2010, a Petrobras tem uma parcela de 30% em todos os projetos do pré-sal e só os outros 70% é que vão a leilão. Além disso, a petrolífera brasileira também é a "operadora" dos campos, o que lhe dá mais controle sobre o ritmo de produção.
As empresas entregam a produção ao Estado depois de descontar os custos e recebem em troca parte de seu excedente de produção. Essa parcela pode variar e, no leilão, a petrolífera vencedora será a que oferecer uma maior fatia ao Estado.
No novo modelo também foram incluídos requerimentos sobre o conteúdo nacional dos projetos. O percentual mínimo de componentes brasileiros usados na operação tem de ser de 37% na fase de exploração, 55% na fase de desenvolvimento até 2021 e 59% depois desse ano.
Ele foi adotado em 2010 com o objetivo de direcionar uma fatia maior de tais recursos para os cofres públicos.
"Esses são recursos que poderão ser aplicados em educação e saúde. Assegurar que eles estarão a disposição dos brasileiros era uma oportunidade ímpar que não poderíamos perder", diz Lopreato.
Segundo o economista, o que justificaria a mudança do regime de concessão para o regime de produção partilhada é o fato de o pré-sal ser uma área de exploração de baixo risco.
"Faz sentido adotar um regime de concessão em uma área em que, apesar de terem sido feitos estudos geológicos, ainda há algum grau de dúvida sobre o potencial das reservas", afirma o professor.
"No caso do pré-sal, porém, todas as áreas parecem estar mapeadas e atividades de exploração preliminar têm mostrado que o risco é muito baixo: a única dúvida é se a vazão do petróleo será boa ou ótima."
Para Lopreato, é difícil estabelecer se o desinteresse da BP, da British Gas, da Chevron e da ExxonMobil pelo leilão de Libra teve mesmo como causa uma resistência ao modelo de produção partilhada ou mesmo a percepção de que há um "excesso de intervencionismo estatal" no novo regime.
Ele ressalta que outras empresas - como a francesa Total e a Shell - não parecem ter visto grandes problemas no novo modelo e nenhuma das "desistentes" se pronunciou oficialmente sobre o tema.
"Muitos fatores podem ter influenciado a decisão dessas petrolíferas em não participar do leilão. Investir no campo de Libra pressupõe um esforço financeiro gigantesco e pode ser que elas já estivessem com seus recursos muito comprometidos com outros projetos, por exemplo."
Apesar de defender o novo modelo, o professor faz a ressalva de que também há riscos importantes a serem evitados durante sua implementação.
Ele lembra que a obrigatoriedade de a Petrobras estar presente em todos os projetos, com uma participação de 30%, exigirá da empresa a mobilização de muitos recursos: "Nesse contexto, comprometer os recursos da empresa com uma política para segurar os preços da gasolina pode ser mais complicado. 

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PARA ENTENDER O PRÉ-SAL...



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Homenagem ao engenheiro Bigu no DNIT

Em solenidade na sede do DNIT - Unidade de Anápolis, GO - na manhã de 10 de setembro, dirigentes e servidores do órgão despediram-se do Engenheiro Supervisor da Unidade, José Olímpio Maia, que se aposentou.

Uma comovente homenagem foi prestada a vários engenheiros civis que dedicaram suas vidas e carreiras profissionais ao rodoviarismo e à integração do país.

Na sala da Chefia foi inaugurada a Galeria de Fotos dos Engenheiros-Chefes e entre os homenageados estava o engenheiro civil Benedito Ribeiro de Freitas (Bigu), que chefiou a unidade de Anápolis de 1962 a 1963 ( na época era DNER, atual DNIT).



O "doutor Bigu", como era popularmente chamado, nasceu em Uruaçu, no antigo meio-norte de Goiás, em 1929. Ficou órfão do pai aos quatro ou cinco anos. Sua mãe, a vovó Joaninha (Joana Rodrigues de Freitas), foi uma das primeiras professoras primárias de Uruaçu.

O jovem Benedito cursou a Escola Técnica em Goiânia e formou-se engenheiro civil em Belo Horizonte pela UFMG, em 1958, iniciando sua atuação como construtor de estradas.

Foi um autêntico "engenheiro do trecho", no final da era JK. Viveu a época da construção de Brasília e das rodovias que ligaram a nova Capital às várias regiões do país. 

O trabalho para o qual era designado  é que definia os locais onde moraria com a família: Paracatu (MG) em 1959; Rio Verde (GO) de 1960 a 62; depois Anápolis; Uruaçu  e Brasília, de 63 a 71, nos tempos da RODOBRAS; em meio ao surgimento das rodovias que ligariam a Capital Federal  a Belo Horizonte, Cuiabá, Goiânia, Belém.

O engenheiro uruaçuense atuou ainda na fase inicial da construção da Usina de Itaipu em Foz do Iguaçu (PR). De 1971 a 1972 trabalhou no DERGO, na construção da ponte sobre o Rio Araguaia, ligando Couto Magalhães (GO, agora TO) a Conceição do Araguaia (PA). 

Em 1974/75, foi Diretor Técnico da PAVICAP (depois DERMU/COMPAV e atual SEMOB), na Prefeitura de Goiânia. Me lembro do asfaltamento do prolongamento da Rua 83, para a inauguração do Estádio Serra Dourada, em 1975, ele num sufoco danado, virando noite e fins de semana, sempre falando num rádio com o encarregado da usina de massa asfáltica da Prefeitura, pedindo mais produção.

O carro de serviço que ele usava era um fusca azul, o motorista era o "seu Genaro". No porta luva meu pai sempre tinha uma caderneta, onde ia anotando os endereços de buracos nas ruas, bocas-de-lobo e meio-fios quebrados, etc, para mandar as equipes de manutenção. Quando ele dirigia o carro, muitas vezes eu mesmo anotei na tal caderneta o que ele ditava. Parecia que não se cansava nunca. 

Na iniciativa privada, foi sócio-fundador, e depois proprietário, da SERVITEC, sempre atuando no ramo de obras rodoviárias.


                                        Eu e Custódio com colegas de papai do DNIT/Anápolis


Assim era o nosso pai, pai de doze filhos, três casamentos, que faleceu em 2002, aos 73 anos. 

Na homenagem em Anápolis, revivi com muita saudade e orgulho as lembranças do velho, que nos ensinou e incentivou a estudar, a trabalhar e acreditar no Brasil, a gostar de boa música. 

Olga, Custódio, Regina e eu estivemos na solenidade em Anápolis, representando a família. Ali ouvimos vários relatos daqueles que foram colegas de trabalho de papai, que falaram de sua dedicação ao serviço, da sua determinação de executar e concluir a obra sob sua responsabilidade. Era muito trabalhador, simples e amigo de todos, testemunharam. 

                                                      CAUSOS DA VIDA 

Eu e Custódio lembramos de quando éramos crianças em Anápolis e num domingo fomos com papai na sede do DNER. Enquanto ele trabalhava no escritório a gente se esbaldava, brincando de dirigir tratores D-8, caminhões, caminhonetes.

Só que na segunda cedo nenhum veículo podia ser ligado: as chaves tinham sumido! 

Diz a lenda que o Dim, nosso saudoso irmão Luiz Cláudio, levou as chaves no bolso...kkkkkk (acho que não foi só ele não),  elas estavam dentro dos caminhões de brinquedo que tínhamos em casa, debaixo da cama. Éramos um trio prá muita confusão! Pensa no tamanho da bronca que a gente deve ter ganhado, isso tem cinqüenta anos, nem lembro direito. 

Outra de que me lembro é que sempre íamos com o velho para o trecho, na obra da estrada, nos fins de semana e férias, na época do asfaltamento da Belém-Brasília (antiga BR 14, atual BR 153). 

Num dia desses, em algum córrego entre Uruaçu e Porangatu, estavam construindo um bueiro ARMCO, daqueles de chapas metálicas parafusadas.

 E as chapas não se ajustavam, o trabalho tava meio empacado...Quando é fé, olha o doutor Bigu lá em cima do bueiro, alavanca na mão, orientando os operários: 
- No três, todo mundo faz força para esse lado!

E no três, a alavanca escapuliu, e papai caiu dentro do córrego, de  costas. 
Pensa num homem bravo, meio caído, meio levantando, gritando, o dedo em riste:
- Ninguém ri, ninguém ri!

Diz o Custódio que desse episódio resultou uma fratura da bacia. Mas o tal bueiro da rodovia foi concluído no prazo. 

Hoje o que falta é duplicar a Belém-Brasília, uma das rodovias mais importantes do Brasil, e concluir de vez a  Ferrovia Norte-Sul, vital para escoamento da produção da nossa região, na certa diria papai. 

Além do trabalho, gostava muito de música (ele e a irmã, a querida tia Zizi). Na casa dele tinha de tudo: violão, cavaquinho (ele arranhava bem), piano, guitarra, pandeiro; e muita festa, mil serestas e memoráveis comemorações com a família e amigos, o tradicional carneiro de 6 de janeiro, na Festa de Reis.

O blog está aberto para a publicação de mais e mais estórias que cada um/a for lembrando. Mandem fotos também. 

Posto aqui fotos de um computador Olivetti que ele usava em 1972/73, para fazer cálculo estrutural: o monstro pesa quase 50 kg. 





E olha só outras coisas do século passado que ele usava: tá tudo funcionando, mandei reformar!






Em memória do saudoso pai, vai aqui uma moda boa, com um abraço apertado. Eu e o maestro Nildo 7 cordas... 



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GALERIA DE FOTOS




          Porangatu, 1975, casa dos tios-avós Moacir/Edite. Papai encostado na pilastra,       
                             Custódio no violão, eu era o retratista, tanta gente ....






                                         
                                Casamento com minha mãe, Angelina, BH, 1957.




                             Eita família grande - Goiânia, 2003



            Com Wildeã e pais da Regina (Crudwald e Leda), 1978, no nosso casamento


 

                            Seresta das boas em Uruaçu: tia Zizi, Odeni, seu Plínio.




                          E na casa de papai também, com Da. Edmee na sanfona, talvez 1999.



                                                    Papai e Olga -2001





                           Com o prefeito Pedro Wilson, 2002, na inauguração do 
                                 Coreto da Praça Joaquim Lúcio. Campinas.



                                                          Aniversário de alguém, 2004.



                     Tio-avô Moacir, papai, Luis Filipe, eu e Custódio, lá pelo ano de 1999

sábado, 14 de setembro de 2013

Putin: “É perigoso encorajar as pessoas a se verem como excepcionais”

Artigo de Putin ao povo e líderes dos EUA sobre a crise na Síria entra para a História. 

Publicado no New York Times em 12/09/2013, prega o consenso a partir das decisões da ONU, condena ação militar à revelia da lei internacional e diz que é preocupante que Obama encoraje os estadunidenses a se verem como excepcionais. 

Ataque direto dos EUA à Síria levará a nova onda de terrorismo, adverte. 

Para ser lido, refletido, estudado. 

Confira. 

LCO

*Republicado do blog VIOMUNDO. 

por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo

O artigo que tomou quase uma página inteira do New York Times deu o que falar.

Foi assunto na blogosfera norte-americana o dia inteiro e provocou até mesmo uma explicação do jornal.

Margaret Sullivan, ombudsman, publicou um post no site doTimes para explicar como e porque a publicação decidiu postar, ontem à noite — e publicar hoje no jornal impresso — o artigo assinado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Ela conta que na última quarta-feira o editor da página de opiniões e editoriais, Andrew Rosenthal, recebeu um telefonema da empresa de relações públicas americana que representa Vladimir Putin oferecendo o artigo.

Ele estava tão bem escrito e a argumentação era tão forte que Rosenthal decidiu publicar.

A repercussão foi enorme. Segundo o Times, nos últimos tempos foram poucos os artigos que receberam tanta atenção imediatamente.

Só se compara aos que foram escritos por Mona Simpson, irmã de Steve Jobs; Angelina Jolie sobre a mastectomia dupla à qual se submeteu e ao artigo de Greg Smith contando porque pediu demissão do banco Goldman Sachs.

Segue a tradução:

Um pedido de cautela, da Rússia

Por Vladimir Putin, presidente da Rússia, no New York Times

Eventos recentes envolvendo a Síria me impeliram a falar diretamente com o povo norte-americano e com seus líderes políticos. É importante fazê-lo num tempo no qual a comunicação entre as sociedades é insuficiente.

As nossas relações passaram por estágios distintos. Estivemos uns contra os outros durante a Guerra Fria. Mas também já fomos aliados, e derrotamos os nazistas juntos.

A organização universal internacional – as Nações Unidas – foi estabelecida para evitar que devastações como esta acontecessem novamente.

Os fundadores das Nações Unidos entenderam que as decisões que afetam a guerra e a paz devem ser tomadas apenas por consenso, e com o consentimento norte-americano o veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança foi preservado no Estatuto das Nações Unidas.

A sabedoria profunda dessa decisão sustentou a estabilidade das relações internacionais por décadas.

Ninguém quer que as Nações Unidas sofram a mesma sorte da Liga das Nações, que desmoronou por não ter alavancagem real. Isso é possível se países influentes ignorarem as Nações Unidas e agirem militarmente sem a autorização do Conselho de Segurança.

O ataque potencial dos Estados Unidos contra a Síria, apesar da forte oposição de vários países e grandes líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, resultará em um aumento do número de vítimas inocentes e pode, potencialmente, espalhar o conflito para além das fronteiras da Síria.

Um ataque aumentaria a violência e deflagraria uma nova onda de terrorismo.

Ele poderia minar esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito Israel-Palestina além de desestabilizar o Oriente Médio e o Norte da África.

Ele poderia desequilibrar todo o sistema internacional de lei e de ordem.

A Síria não está assistindo a uma batalha pela democracia, mas a um conflito armado entre o governo e a oposição em um país multirreligioso.

Existem alguns defensores da democracia na Síria. Mas há um número mais do que suficiente de rebeldes e extremistas da Al Qaeda de todos os tipos lutando contra o governo.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos designou a Frente Al Nusra, o Estado Islâmico do Iraque e o Levante, que lutam do lado da oposição, como organizações terroristas.

Esse conflito interno, alimentado por armas estrangeiras fornecidas à oposição, é um dos mais sangrentos do mundo.

Mercenários de países árabes que estão lutando lá, e centenas de militantes de países ocidentais e até mesmo da Rússia, são assuntos que nos preocupam profundamente.

Será que eles retornarão a seus países com experiência adquirida na Síria?

Afinal, depois de lutar na Líbia, extremistas se deslocaram para o Mali.

Isso nos ameaça a todos.

De fora, a Rússia defendeu o diálogo pacífico permitindo aos sírios desenvolver um plano de compromisso para seu próprio futuro. Nós não estamos protegendo o governo da Síria, mas a lei internacional.

Nós precisamos usar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e acreditamos que preservar a lei e a ordem no complexo e turbulento mundo de hoje é uma das poucas formas de evitar que as relações internacionais deslizem para o caos.

A lei ainda é a lei, e nós devemos seguí-la gostemos dela ou não.

De acordo com a atual lei internacional, o uso da força só é permitido em defesa própria ou por decisão do Conselho de Segurança.

Qualquer outro motivo é inaceitável, de acordo com o estatuto das Nações Unidas, e se constituiria em um ato de agressão.

Ninguém duvida que gás venenoso foi usado na Síria. Mas existe muita razão para se acreditar que ele foi usado não pelo Exército Sírio, mas pelas forças de oposição, para provocar uma intervenção de patronos estrangeiros poderosos, que tomariam o partido dos fundamentalistas.

Informes de que militantes estão preparando outro ataque – desta vez contra Israel – não podem ser ignorados.

É alarmante que a intervenção militar em conflitos internos de países estrangeiros tenha se tornado comum para os Estados Unidos.

É de interesse dos Estados Unidos no longo prazo? Eu duvido.

Milhões, no mundo, cada vez mais veem os Estados Unidos não como modelo de democracia, mas se apoiando somente na força bruta, formando coalizões sob o slogan “ou você está conosco ou contra nós”.

Mas a força tem se mostrado ineficiente e sem sentido. O Afeganistão está cambaleando e ninguém sabe dizer o que vai acontecer quando as forças internacionais forem embora.

A Líbia está dividida em tribos e clãs.

No Iraque, a guerra civil continua, com dúzias de mortes todos os dias.

Nos Estados Unidos, muitos fazem uma analogia entre o Iraque e a Síria, e perguntam por que seu governo gostaria de repetir um erro recente.

Não importa quanto precisos os ataques ou quão sofisticadas as armas, as mortes de civis são inevitáveis, incluindo idosos e crianças que o ataque tem como objetivo proteger.

O mundo reage perguntando: se você não pode contar com a lei internacional, então deve encontrar outras formas de garantir a sua segurança.

Daí o crescimento do número de países que estão tentando adquirir armas de destruição em massa. Existe uma lógica: se você tem a bomba, ninguém vai tocar em você.

Resta-nos a conversa sobre a necessidade de fortalecer a não-proliferação, quando na realidade ela está sendo erodida.

Nós temos de parar de usar a linguagem da força e voltar ao caminho da diplomacia civilizada e dos acordos políticos.

Uma nova oportunidade para evitar a ação militar surgiu nos últimos dias.

Os Estados Unidos, a Rússia e todos os membros da comunidade internacional devem abraçar a oportunidade da intenção do governo sírio de colocar seu arsenal químico sob o controle internacional para subsequente destruição.

A julgar pelas declarações do presidente Obama, os Estados Unidos veem esta como uma alternativa à ação militar.

Eu dou as boas vindas ao interesse do presidente em continuar o diálogo com Rússia e Síria.

Nós devemos trabalhar juntos para manter viva essa esperança, como concordamos no encontro do G8 em Lough Erne na Irlanda do Norte em junho, e levar a discussão de volta para as negociações.

Se pudermos evitar o uso da força contra a Síria, isso vai melhorar a atmosfera das relações internacionais e fortalecer a confiança mútua.

Será nosso sucesso coletivo e abrirá  as portas para a cooperação em outros assuntos críticos.

Meu trabalho e minha relação pessoal com o presidente Obama são marcados por uma confiança crescente. Eu sou grato por isso.

Eu estudei cuidadosamente seu discurso à nação na terça-feira. E discordaria de um argumento que ele apresentou sobre o excepcionalismo americano, afirmando que a política dos Estados Unidos é “o que torna os Estados Unidos diferentes, é o que nos torna excepcionais”.

É muito perigoso encorajar as pessoas a se verem como excepcionais, seja qual for a motivação.

Existem países grandes e pequenos, ricos e pobres, aqueles que têm uma longa tradição democrática e os que estão ainda encontrando o caminho da democracia.

Suas políticas também são diferentes. Nós somos todos diferentes, mas quando pedimos ao Senhor suas bênçãos, não devemos nos esquecer de que Deus nos criou todos iguais.



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Renato Rabelo: O desafio da construção do pensamento revolucionário

O Partido Comunista tem como sua causa o grande ideal da superação revolucionária do capitalismo e da construção da nova sociedade socialista. 


Este objetivo maior somente será alcançado com o desenvolvimento da teoria revolucionária, que plasme um pensamento avançado engajado no seu tempo histórico.

Por Renato Rabelo*
A luta pelo desenvolvimento e aplicação de um pensamento de esquerda revolucionário, marxista, em nosso tempo no Brasil, que se concretize na existência de um partido comunista de feição e prática revolucionárias – condutor da maioria dos trabalhadores e das camadas populares – tem sido o centro de um embate histórico incessante do Partido Comunista do Brasil.

Esse grande embate transcorre desde a fundação do Partido em 1922, passando pela reorganização de sentido revolucionário em 1962, seguindo no 8º Congresso, em 1992, quando enfrentou e venceu a avalanche da derrota estratégica do socialismo. 
Segue, hoje, na tarefa primordial de reavivar a perspectiva comunista, na luta do PCdoB que compreende a acumulação estratégica de sentido revolucionário nas novas condições políticas inauguradas pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, num mundo em que o movimento revolucionário está sujeito ainda a uma correlação de forças que favorece o imperialismo-capitalismo.
O PCdoB analisa que esse hodierno período histórico coloca os comunistas diante da disjuntiva – de colocar em marcha uma nova luta pelo socialismo, retirando as lições da construção do socialismo do século passado, atualizando o caminho e reavivando seu rumo – ou prevalecerão o sistema e a ordem capitalistas por longo período histórico, num retrocesso civilizacional. 

Na avaliação histórica feita pelo Partido, ressaltando ensinamentos capitais, depreendemos que o socialismo inicia seus passos na história. 
O seu propósito primordial é resolver a contradição essencial do capitalismo: produção cada vez mais social em antagonismo crescente com a forma de apropriação privada da renda e da riqueza. 
Somente será possível essa realização com o estabelecimento do poder de Estado dos trabalhadores e seus aliados. Mas o aprendizado da construção do socialismo ressalta que não há modelo único nem de socialismo, nem de revolução.
 Sua edificação passa por um período objetivo de transição, com etapas conforme as peculiaridades de cada país.

O PCdoB – nesta fase de sua direção na quarta geração – conseguiu situar e determinar, num esforço baseado na teoria marxista-leninista, compreendendo a realidade do atual período histórico, uma visão que embasa nosso pensamento tático e estratégico, definida no conceito: a acumulação estratégica de forças, cujo objetivo é a conquista da hegemonia dos trabalhadores e das camadas populares, configurado no poder estatal de caráter democrático-popular, visando à transição ao socialismo. 
A acumulação para alcance da hegemonia dá-se pela via das reformas estruturais e de rupturas com a ordem vigente. Esta tarefa estratégica do PCdoB é delineada no seu Programa – o caminho de fortalecer a nação, no rumo da luta pelo socialismo.
 Portanto, o caminho não deve se perder nos desvãos da caminhada, não se esgota, até que seja atingido o destino socialista.

Na linha programática atual, a realização plena de Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento se constitui no caminho brasileiro para o socialismo. Portanto, esse não é um fim em si mesmo. 
Este novo Projeto é compreendido essencialmente no entrelaçamento entre as tarefas fundamentais da luta pela soberania nacional, a democratização da sociedade, o progresso social, a defesa do meio ambiente, a integração solidária da América Latina.
 A concretização dessas tarefas se realizará por meio das reformas democráticas na superestrutura político-institucional (reforma política, reforma do Poder Judiciário, democratização dos meios de comunicação), e nas reformas econômicas e estruturais da sociedade (reforma financeira, reforma tributária, reforma urbana, reforma agrária consequente, universalização de qualidade da saúde e educação).

Neste conjunto de tarefas a questão nacional assume a centralidade. Isso é decorrência da etapa do imperialismo, sobretudo nos países da chamada periferia do sistema, que estão submetidos a uma contradição básica: anseio dos povos por mais profundo desenvolvimento e progresso social versus a hegemonia dominante do imperialismo e de seus aliados internos voltados para prevalecer seus desígnios antinacionais. 

O pensamento revolucionário do PCdoB, em desenvolvimento, compreende a visão da construção e gestão de nossa instituição política maior e instrumento imprescindível para aplicação da nossa linha básica e Programa, reduto da nossa ideologia transformadora – o Partido Comunista. 
Reafirmamos a identidade do Partido Comunista do Brasil, que é expressão do desenvolvimento da nossa teoria base, o marxismo-leninismo, partido político da classe trabalhadora destinado à conquista e construção do socialismo, partido patriótico e internacionalista.

A continuidade da opção revolucionária, marxista-leninista, nas condições históricas de nova luta pelo socialismo, se traduz no modo da edificação atual do Partido Comunista. 
Para cumprir sua missão o Partido não se encerra no principismo – restrito à propaganda revolucionária, sem influência no curso político e nas massas – nem deve se tornar um agrupamento possibilista e pragmático.

Concebemos hoje o PCdoB, na exigência da acumulação de forças estratégica, como vanguarda na articulação dialética entre a luta política em todas as suas dimensões, a luta social de massas e a luta de ideias.
 Na sua estruturação perseguimos a formação de um Partido sem alas nem grupos, com um único centro dirigente, com ampla liberdade de opinião e debate de ideias, com unidade ideológica e unidade de ação política. 
Composto por núcleos dirigentes com firmeza e convicção revolucionárias, esteios para construção de um partido orgânico de massas de militantes, voltado para a ação política.

Ao fim e ao cabo a aplicação da linha política e da edificação partidária depende dos quadros, eles são o fator decisivo para aplicação das decisões.
 A nossa política atualizada de quadros procurou responder às novas exigências da linha programática e da construção partidária.

A segunda parte deste artigo versará sobre a aplicação do pensamento revolucionário pelo PCdoB. 

* Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB